quarta-feira, 28 de maio de 2008

QUEBRE O FEITIÇO!

Está num concerto, enfeitiçado e sustendo a respiração, a escutar os seus músicos favoritos na digressão de despedida e a doce música transporta-o, levando-o para um outro lugar…e então um telemóvel começa a tocar! Quebra-se o feitiço. Odioso, horrível, indesculpável. Este bronco sem consideração pelos outros estragou-lhe o concerto, roubou-lhe um momento precioso que jamais poderá ser recuperado. Que maldade que é quebrar o feitiço de alguém! Eu não quero ser aquela pessoa do telemóvel e tenho consciência de que, para muitas pessoas, parecerei estar a pôr-me nessa posição ao embarcar neste livro.
O problema é que existem bons feitiços e maus feitiços. Se ao menos um telefonema providencial pudesse ter interrompido em Jonestown, na Guiana, em 1978, quando o louco Jim Jones estava a ordenar às centenas de seguidores enfeitiçados que cometessem suicídio! Se ao menos pudéssemos ter quebrado o feitiço que levou o culto japonês Aum Shinrikyo a lançar gás sarin numa estação de metro de Tóquio, matando doze pessoas e ferindo milhares de outras! Se ao menos descobríssemos uma forma de quebrar o feitiço que atrai milhares de pobres jovens muçulmanos a madrassas fanáticas, onde são preparados a uma vida de martírio assassino, em vez de os familiarizarem com o mundo moderno, a democracia, a história e a ciência! Se ao menos pudéssemos quebrar o feitiço que convence alguns dos nossos cidadãos que Deus lhes ordena que ataquem à bomba clínicas de aborto!
Os cultos religiosos e os fanáticos políticos não são os únicos a lançar maus feitiços actualmente. Pense-se nas pessoas viciadas em drogas, no jogo, no álcool, na pornografia infantil. Necessitam de toda a ajuda que lhes possamos dar e duvido que alguém esteja disposto a lançar um manto protector sobre essas pessoas enfeitiçadas e dizer: - Chiu! Não quebre o feitiço!

DENNET, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ª edição, 2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores, pp. 27-28

7 comentários:

Anónimo disse...

Olá
Já tenho aqui o livro de Levinas -Totalidade e Infinito.
Este texto do post também é interessante. Gosto do final: "não quebrem o feitiço".
Boa noite
Isabel

Anónimo disse...

Li o texto precipitadamente. Não gosto do final mas gosto da frase: não quebre o feitiço.
Isabel

Anónimo disse...

E os viciados na net? será que alguém está disposto a lançar um manto protector sobre essas pessoas enfeitiçadas?
Isabel

Hermes disse...

Olá Isabel
É capaz de se decepcionar com o livro de Levinas. Há partes intragáveis. Levinas, podemos dizer, situa-se na antípoda de Dennet. Levinas, filósofo cristão. Dennet, ateu.
Quanto ao seu terceiro comentário... O feitiço da net, nem semprer é um mau feitiço (ainda que também o possa ser), e Dennet distingue bom de mau feitiço. Para Dennet o primeiro exemplo (do concerto) trata-se de um bom feitiço, todos os outros são são maus feitiços. O da net terá dias, digo eu.
Boa noite
António Paulo

Hermes disse...

Contactei-a através do gmail.
António Paulo

Anónimo disse...

Algo falhou.
Receio no futuro ficar impossibilitada de vir aqui ler este "tesouro de textos". Costumo entrar no blog através dos blogs do Público. Foi assim que o descobri. É um caminho mais sinuoso mas o que interessa é cá chegar. Ora, a minha referência - A Fil. no Ens. Sec., tem vindo a retirar posts.
Quando entro por www.katarsis2... dos lados direito e esquerdo não está o link deste blog. Já tentei tão só, escrever: "Em busca de sofia" e remete para outros assuntos.
Como devo proceder para entrar directamente no blog? Não se esteja a rir da minha ignorância blogosférica(?). Todos os caminhos vão dar a Roma. Não importa o caminho, o que interessa é chegar.
Ainda não comecei a ler Levinas. Tenho testes e ensaios para corrigir e uma acta para fazer. Detesto fazer actas. Fico com gastrite nas paredes do estômago.
Estou a corrigir testes desde as seis da manhã. Agora vim aqui fazer um intervalo. Tenho aulas de tarde.
Isabel :)

Hermes disse...

www.hermes-embuscadesophia.blogspot.com