As
nossas capacidades analíticas estão muitas vezes já altamente desenvolvidas
antes de termos aprendido muita coisa acerca do mundo, e por volta dos catorze
anos muitas pessoas começam a pensar por si próprias em problemas filosóficos —
sobre o que realmente existe, se nós podemos saber alguma coisa, se alguma
coisa é realmente correcta ou errada, se a vida faz sentido, se a morte é o
fim. Escreve-se acerca destes problemas desde há milhares de anos, mas a
matéria-prima filosófica vem directamente do mundo e da nossa relação com ele,
e não de escritos do passado. É por isso que continuam a surgir uma e outra vez
na cabeça de pessoas que não leram nada acerca deles.
[...]
Não discutirei os grandes escritos filosóficos do passado nem o contexto
cultural desses escritos. O núcleo da filosofia reside em certas questões que o
espírito reflexivo humano acha naturalmente enigmáticas, e a melhor maneira de
começar o estudo da filosofia é pensar directamente sobre elas. Uma vez feito
isso, encontramo-nos numa posição melhor para apreciar o trabalho de outras
pessoas que tentaram solucionar os mesmos problemas.