Observe-se uma formiga num prado, trepando laboriosamente a uma folha de erva, cada vez mais alto, até cair; volta a trepar e, mais uma vez, qual Sísifo a rolar a sua pedra, tenta chegar ao cimo. Por que é que uma formiga age desta forma? Que benefício busca para si própria com esta actividade árdua e improvável? Trata-se da pergunta errada, afinal. Não resulta daí nenhum benefício biológico para a formiga. Ela não está a tentar obter uma melhor visão do território, à procura de alimento ou a pavonear-se perante um par potencial, por exemplo. O seu cérebro foi ocupado por um minúsculo parasita, um verme (Dicrocelium dendriticum) que necessita de ter acesso ao interior do estômago de um carneiro ou de uma vaca para completar o seu ciclo reprodutivo. Este pequeno verme cerebral está a tentar posicionar a formiga para beneficiar a sua descendência, não a da formiga. Não se trata de um fenómeno isolado. Existem parasitas similarmente manipuladores que infectam peixes e ratos, entre outras espécies. Estes parasitas levam os seus hospedeiros a comportar-se de formas improváveis – até mesmo suicidas – para benefício do hóspede, não do hospedeiro.
Será que algo semelhante acontece com os seres humanos? Na verdade, sim. Encontramos frequentemente seres humanos que põem de lado interesses pessoais, a sua saúde ou as hipóteses de terem filhos para dedicarem toda a sua vida a fazer vingar uma ideia que se lhes alojou no cérebro. Em árabe, a palavra islão significa “submissão” e todo o bom muçulmano presta testemunho, reza cinco vezes por dia, dá esmola, jejua durante o Ramadão e tenta fazer a peregrinação, ou hadj, a Meca, tudo em nome da ideia de Alá e de Maomé, o mensageiro de Alá. Os Cristãos e os Judeus procedem de modo similar, evidentemente dedicando a sua vida a espalhar a Palavra, fazendo enormes sacrifícios, sofrendo corajosamente e arriscando as suas vidas por uma ideia. Não devemos também esquecer os muitos milhares de humanistas seculares que têm sacrificado a sua vida pela Democracia, Justiça, ou somente pela Verdade. Existem muitas ideias pelas quais se pode morrer.
A capacidade de dedicarmos a nossa vida a algo que consideramos mais importante do que o bem-estar pessoal – ou o imperativo biológico de ter descendência – é um dos traços que nos distinguem do resto do mundo animal.
DENNET, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ªedição,2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores Lda, pp. 21-22
Será que algo semelhante acontece com os seres humanos? Na verdade, sim. Encontramos frequentemente seres humanos que põem de lado interesses pessoais, a sua saúde ou as hipóteses de terem filhos para dedicarem toda a sua vida a fazer vingar uma ideia que se lhes alojou no cérebro. Em árabe, a palavra islão significa “submissão” e todo o bom muçulmano presta testemunho, reza cinco vezes por dia, dá esmola, jejua durante o Ramadão e tenta fazer a peregrinação, ou hadj, a Meca, tudo em nome da ideia de Alá e de Maomé, o mensageiro de Alá. Os Cristãos e os Judeus procedem de modo similar, evidentemente dedicando a sua vida a espalhar a Palavra, fazendo enormes sacrifícios, sofrendo corajosamente e arriscando as suas vidas por uma ideia. Não devemos também esquecer os muitos milhares de humanistas seculares que têm sacrificado a sua vida pela Democracia, Justiça, ou somente pela Verdade. Existem muitas ideias pelas quais se pode morrer.
A capacidade de dedicarmos a nossa vida a algo que consideramos mais importante do que o bem-estar pessoal – ou o imperativo biológico de ter descendência – é um dos traços que nos distinguem do resto do mundo animal.
DENNET, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ªedição,2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores Lda, pp. 21-22
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