sábado, 18 de fevereiro de 2012

DILEMA DOS PRISIONEIROS

No início da década de 1980, Robert Axelrod, sociólogo americano, fez uma descoberta notável acerca da natureza da cooperação. A verdadeira importância do resultado de Axelrod ainda não foi devidamente valorizada fora de um grupo restrito de especialistas. Encerra a potencialidade de alterar não apenas as nossas vidas pessoais, como também o mundo da política internacional.
Para compreendermos o que Axelrod descobriu, precisamos primeiro de saber algo sobre o problema que o interessou — um bem conhecido quebra-cabeças sobre cooperação chamado Dilema do Prisioneiro. O nome vem da forma como o quebra-cabeças é geralmente apresentado: uma escolha imaginária que se apresenta a um prisioneiro. Há muitas versões. Eis a minha:

A VERIFICAÇÃO DAS TEORIAS CIENTÍFICAS

Podem as hipóteses ser verificadas? Muitas pessoas atribuem o enorme sucesso da ciência à sua capacidade para verificar as teorias que produz, recorrendo à observação ou a provas experimentais. Verificar uma hipótese científica, ou teoria, é mostrar conclusivamente que é verdadeira. Mas será que a ciência pode realmente fazer tal coisa?
As hipóteses ou teorias formula-se através de afirmações universais como, por exemplo, “Todos os corpos dilata sobre a acção do calor”. Estas afirmações não podem ser directamente verificadas pela experiência; pela experiência podemos verificar apenas que este ou aquele corpo se dilatou sob a acção do calor. Sendo assim, como podemos saber que as afirmações universais da ciência são verdadeiras? Como poderemos verificá-las?
Uma resposta tentadora é dizer que as afirmações universais resultam da observação e do raciocínio indutivo. O raciocínio indutivo permitiria, deste ponto de vista, justificar as afirmações universais baseadas em observações particulares. O problema desta resposta é que levanta outro problema: como podemos verificar o raciocínio indutivo? Será o raciocínio indutivo realmente de confiança? Ao contrário do que acontece na dedução, não há na indução regras simples que permitam distinguir os bons raciocínios dos maus – este é o problema da indução.
ALMEIDA, Aires e DESIDÉRIO, Murcho orgs., Textos e Problemas de Filosofia, 2006. Lisboa: Plátano Editora, p. 231

TAREFA:
Será o raciocínio indutivo realmente de confiança? Justifica.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O que é a ciência?

Caro Senhor
Tomo a liberdade de me dirigir a si rogando-lhe que seja o juiz numa disputa entre mim e uma pessoa minha conhecida que já não posso considerar um amigo. A questão em discussão é a seguinte: É a minha criação, a guardachuvalogia, uma ciência? Permita-me que explique a situação. De há dezoito anos para cá que, conjuntamente com alguns fieis discípulos, venho recolhendo informações relacionadas com um objecto até agora negligenciado pelos cientistas — o guarda-chuva. O resultado da minha investigação, até à presente data, encontra-se reunido em nove volumes que vos envio separadamente. Deixe-me, antecipando a sua leitura, descrever brevemente a natureza dos conteúdos aí apresentados e o método que empreguei na sua compilação. Comecei pelas ilhas. Passando de quarteirão em quarteirão, de casa em casa, de família em família, de indivíduo em indivíduo, descobri: 1) o número de guarda-chuvas existentes, 2) o seu tamanho, 3) o seu peso, 4) a sua cor. Tendo coberto uma ilha, passei às restantes. Depois de muitos anos, passei à cidade de Lisboa e, finalmente, completei toda a cidade. Estava então pronto a continuar o trabalho passando para o resto do país e, posteriormente, para o resto do mundo.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O ANEL DE GYGES

Há dois mil e quinhentos anos, no dealbar do pensamento filosófico ocidental, Sócrates tinha reputação de ser o homem mais sábio da Grécia. Um dia, Gláucon, um jovem ateniense abastado, desafiou-o a responder a uma questão sobre como havemos de viver. O desafio constitui um elemento-chave na República de Platão, uma das obras estruturantes da história da filosofia ocidental. É também uma formulação clássica de uma escolha última.
Segundo Platão, Gláucon começa por contar uma vez mais a história de um pastor que servia o soberano de Lídia. Um dia, estava o pastor com o seu rebanho quando se abateu uma tempestade sobre o local onde se encontrava e se abriu um abismo no solo. Ele desceu pelo abismo e, uma vez lá no fundo, encontrou um anel de ouro, que colocou no dedo. Alguns dias depois, sentado com outros pastores, calhou começar a brincar com o anel e, para seu espanto, descobriu que, quando girava o anel de determinada forma, tornava-se invisível aos olhos dos seus companheiros. Uma vez feita esta descoberta, arranjou maneira de ser um dos mensageiros enviados pelos pastores ao rei, para dar conta do estado dos rebanhos. Chegado ao palácio, usou o anel para seduzir a rainha, conspirou contra o rei, matou-o e, assim, obteve a coroa.
Gláucon considera que esta história encerra uma visão comum sobre a ética e a natureza humana. A implicação da história é que qualquer pessoa que possuísse tal anel faria tábua rasa de todos os padrões éticos.
De seguida, Gláucon desafia Sócrates a provar que esta opinião comum da ética é errada. Prova-nos, diz ele, que uma pessoa sensata que descobrisse o anel continuaria, ao contrário do pastor, a fazer o que era certo. Segundo Platão, Sócrates convenceu Gláucon e os outros atenienses presentes de que, seja qual for o lucro que a injustiça pareça proporcionar, só aqueles que agem de forma correcta são realmente felizes.
Que outra resposta poderíamos dar a Gláucon?
Uma “resposta” que não é resposta alguma consiste em ignorar o desafio. Há muitas pessoas que o fazem. Vivem e morrem irreflectidamente, sem alguma vez se terem perguntado quais os seus objectivos e por que fazem o que fazem.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 30-33

TAREFA
Achas que qualquer pessoa que encontrasse um anel desses agiria como Gyges e deixaria de lado os valores morais? Justifique.