A Intencionalidade é a propriedade de muitos estados e eventos mentais pela qual eles são dirigidos para ou acerca de objectos e estados de coisas no mundo. Se, por exemplo, tenho uma crença, deve ser uma crença de que tal ou qual coisa é o caso; se tenho um medo, deve ser um medo de algo ou de que algo vai acontecer; se tenho um desejo, deve ser um desejo de fazer algo ou de que algo aconteça ou seja o caso; se tenho uma intenção, deve ser uma intenção de fazer algo. (...) Mas, em muitos aspectos, o termo é equívoco(...). Por isso quero já de início clarificar o modo como tenciono usá-lo.
Em primeiro lugar, na minha concepção, só alguns e não todos estados e eventos mentais têm Intencionalidade. Crenças, medos, esperanças e desejos são Intencionais; mas há formas de nervosismo, exaltação e ansiedade não direccionada que não são Intencionais. (...) As minhas crenças e desejos têm sempre que ser acerca de alguma coisa. Mas o meu nervosismo e ansiedade não dirigida não precisam de ser acerca de algo. Tais estados são caracteristicamente acompanhados por crenças e desejos, mas estados não dirigidos não são idênticos a crenças ou desejos. (...)
Em segundo lugar, Intencionalidade não é o mesmo que consciência. Muitos estados conscientes não são Intencionais, como uma sensação súbita de exaltação, e muitos estados Intencionais não são conscientes, como eu ter muitas crenças sobre as quais não estou a pensar no presente e nas quais posso nunca ter pensado (...), são apenas crenças que se têm e nas quais, normalmente, não se pensa.
Em terceiro lugar, tencionar e intenções são apenas uma forma entre outras de Intencionalidade; não têm qualquer estatuto especial. O trocadilho óbvio entre "Intencionalidade" e "intenção" sugere que, no sentido comum do termo, as intenções têm algum papel especial na teoria da Intencionalidade; mas, na minha abordagem, tencionar fazer algo é apenas uma forma de Intencionalidade, juntamente com crença, esperança, medo, desejo, e muitas outras; e não quero com isto sugerir que, por as crenças, por exemplo, serem Intencionais, contenham de alguma maneira a noção de intenção ou tencionem algo, ou que alguém que tenha uma crença deva por meio dela tencionar fazer algo acerca dela. A fim de manter esta distinção totalmente clara, usarei maiúsculas para o sentido técnico de "Intencional" e "Intencionalidade". Intencionalidade é direccionalidade; tencionar fazer algo é apenas um tipo de Intencionalidade entre outros.
SEARLE, John, Intencionalidade - um ensaio de filosofia da mente, 1999. Lisboa: Relógio D'Água Editores, pp.21-23
3 comentários:
Obrigado
Faltou diferenciar com conceito de ser no mundo, de Heidegger, ou seja, ser é estar no mundo, explodindo para dentro do mundo, como que sair de um nada e subitamente espantar-se como consciência no mundo.
Antõnio Augusto,
Não entendi. Qual a relação disso que disse, com o artigo?
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