2. Muitas vezes há boas razões a favor de ambos os lados de uma questão ética, e isto leva as pessoas a desesperar quanto às perspectivas de se chegar alguma vez a conclusões definidas. Se eu disser que o Sr. Santos é um mau homem porque é frequentemente cruel para com outras pessoas, alguém poderá responder que ele trabalha com empenho por algumas boas causas. O primeiro facto é-lhe adverso, mas o segundo é-lhe favorável. Não torna isto impossível concluir que ele é um bom homem ou um mau homem?
Este aspecto do pensamento moral não deve fazer-nos desesperar. O pensamento moral exige que tenhamos em conta os factos e que os ponderemos. No que respeita ao Sr. Santos, a conclusão correcta seria que ele é globalmente um mau homem, ainda que tenha algumas coisas boas. Ou a conclusão correcta pode ser simplesmente que ele é bom em alguns aspectos e mau noutros aspectos. Tudo depende apenas dos factos. As questões difíceis são todas assim: há muito a dizer a favor de ambos os lados.
Ignora-se frequentemente esta ideia simples. No calor de uma discussão sobre a pena de morte ou qualquer outra questão similar, é comum as pessoas de um dos lados negarem que haja boas razões do outro lado. Sentem que, para vencer o debate, nada podem conceder aos seus adversários. Como é óbvio, isto significa que o debate prosseguirá infindavelmente. Se nos basearmos nesta suposição - se presumirmos que nada se poderá provar a não ser que todas as razões relevantes sejam favoráveis a apenas um dos lados -, raramente alguém conseguirá provar alguma coisa. A realidade é confusa. Porém, isto não nos impede de chegar a conclusões razoáveis. Precisamos apenas de tornar as nossas conclusões apropriadamente modestas.
3. Por fim, é fácil confundir duas coisas que importa manter separadas: provar que uma opinião é verdadeira e persuadir alguém a aceitar a nossa prova. A primeira é uma questão de raciocínio sólido; a segunda é um processo psicológico que não envolve apenas o raciocínio. Uma pessoa pode não aceitar um argumento perfeitamente bom por ser teimosa, preconceituosa, ou simplesmente não estar interessada em descobrir a verdade. Disto não se segue que o próprio argumento seja deficiente. Um membro do Klu Klux Klan ou um neonazi podem não escutar os bons argumentos sobre o racismo, mas isto diz algo sobre eles, e não sobre os argumentos. Além disso, há um motivo mais geral para as pessoas resistirem a ouvir a razão quando a moralidade está em questão. Aceitar um argumento moral significa frequentemente que temos de alterar o nosso comportamento. As pessoas podem não querer fazer isso, pelo que não é surpreendente que por vezes se façam surdas.
Problemas da Filosofia, James Rachels Gradiva - (Colecção Filosofia Aberta - pp 250-1)
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