O egoísmo psicológico é uma teoria da motivação que afirma que todos os nossos desejos últimos se referem a nós mesmos. Sempre que queremos bem aos outros (ou mal), temos esses desejos que se referem aos outros apenas instrumentalmente; preocupamo-nos com os outros apenas porque pensamos que o seu bem-estar influenciará o nosso próprio bem-estar. Como afirmei, o egoísmo é uma teoria descritiva, não é normativa. Procura caracterizar o que de facto motiva os seres humanos, mas nada diz sobre se essa motivação é certa ou errada.
O egoísmo tem exercido uma enorme influência nas ciências sociais e tem penetrado de forma ampla no pensamento das pessoas comuns. Os economistas pensam tipicamente que os seres humanos são motivados por "um interesse próprio racional", o que exclui qualquer preocupação redutível ao bem-estar dos outros. E as pessoas comuns afirmam frequentemente que as pessoas ajudam os outros porque isso as faz sentir bem com elas próprias ou porque procuram a aprovação de terceiros.
É fácil inventar explicações egoístas mesmo para os actos de auto-sacríficio mais pungentes. O soldado na trincheira que se faz rebentar juntamente com uma granada para salvar a vida dos seus camaradas, é um lugar-comum na bibliografia sobre o egoísmo. Como pode esse acto resultar do interesse próprio se o soldado sabe que acabará com a sua vida? O egoísta pode responder que o soldado percebe nesse instante que prefere morrer a sofrer a culpa que o perseguiria para sempre se se salvasse a si próprio e deixasse que os seus amigos morressem. O soldado prefere morrer e nada mais sentir, a viver e sofrer os tormentos dos condenados. Esta resposta pode parecer forçada, mas ainda está por determinar a razão por que a devemos considerar falsa.
As críticas que têm surgido contra o egoísmo podem ser divididas em três categorias. Primeiro, há a tese de que não é genuinamente uma teoria. Segundo, há a alegação de que se trata de uma teoria refutada pelo que observamos no comportamento humano. Terceiro, há a ideia de que, embora o egoísmo seja uma teoria consistente com o que observamos, há outras considerações que não são evidentes que sugerem que deve ser rejeitada em favor de uma teoria alternativa, o pluralismo da motivação, segundo a qual os seres humanos tanto têm desejos últimos egoístas como altruístas.
Elliott Sober
Tradução e adaptação de Vítor João Oliveira
Retirado de Textos de apoio ao Manual Arte de Pensar - Didática Editora
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