segunda-feira, 30 de junho de 2008

UMA OBJECÇÃO À TEORIA DE COLLINGWOOD

A noção de verdadeira arte de Collingwood admite muitas coisas que não são obviamente arte; ao mesmo tempo, exclui alguns casos paradigmáticos de arte. Inclui demasiado porque parece implicar que qualquer expressão imaginativa de emoção irá ser automaticamente qualificada como obra de arte. É óbvio que a expressão de uma emoção não precisa de ser uma obra de arte. A expressão de emoções, mesmo no sentido em que Collingwood usa o termo “expressão”, não é certamente uma condição suficiente para que algo seja uma obra de arte. Por exemplo, a transferência e a contratransferência entre um psicoterapeuta e o seu cliente poderia muito bem ter a forma de um sentimento vago, quase inconsciente, aperfeiçoado numa emoção precisamente expressa; contudo, poucas pessoas defenderiam que é, por isso, uma obra de arte. E mais: a descrição de Collingwood do papel apropriado do observador de uma pintura parece transformar esse observador num artista. O observador reexprime a emoção que se encontra no âmago da obra.
Ao mesmo tempo que a teoria admite demais no domínio da verdadeira arte, exclui muitas obras de arte paradigmáticas. Uma aplicação rigorosa dos comentários acerca da arte mágica, por exemplo, parece impedir a maioria das pinturas da Renascença de serem obras de arte. A função da arte religiosa é “evocar, e constantemente reevocar, certas emoções cuja descarga terá lugar nas actividades da vida quotidiana”. Retábulos e outras pinturas devocionais são criadas como ponto de convergência da oração e com uma função particular em mente. Não as deveremos tomar como obras de arte?
WARBURTON, Nigel, O que é a Arte?, 1ª edição, 2007. Lisboa: Editorial Bizâncio, pp. 72-73

1 comentário:

Diego Brandão disse...

Será que o observador transforma-se no artista durante a fruição de uma obra?

Seria interessante você ler de cabo a rabo o "The Principles of art" do Collingwood.

abs