domingo, 8 de junho de 2008

HISTÓRIA INTERNA

Quais são as máximas da nova historiografia interna? Na medida do possível (nunca é totalmente assim, nem a história se poderia escrever, se o fosse), o historiador deveria pôr de lado a ciência que conhece. A sua ciência deveria ser apreendida dos livros e revistas do período que estuda, e deveria dominar estes e as tradições intrínsecas que exibem, antes de abordar os inovadores cujas descobertas ou invenções mudaram a direcção do avanço científico. Ao lidar com inovadores, o historiador deveria tentar pensar como eles. Ao reconhecer que os cientistas são muitas vezes famosos por resultados que não pretenderam, ele deveria indagar que problemas elaboraram e como é que estes se tornaram problemas para ele. Ao reconhecer que uma descoberta histórica raramente é a que foi atribuída por inteiro ao seu autor em textos mais tardios o historiador deveria perguntar o que pensou o seu cientista ter descoberto e o que considerou ele ser a base dessa descoberta. E neste processo de reconstrução, o historiador deveria prestar atenção particular aos erros evidentes do seu homem, não por si mesmos, mas porque eles revelam muito mais o espírito em acção do que as passagens em que um cientista parece registar um resultado ou um argumento que a ciência moderna ainda detém.
KUHN, Thomas, A Tensão Essencial, 1989. Lisboa: Edições 70, pp. 74-75

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