terça-feira, 17 de junho de 2008

OMNIPOTÊNCIA E INFORMAÇÃO ESTRATÉGICA

Ao contrário de outras espécies, que têm de se preocupar permanentemente com predadores à espreita e com a escassez de fontes de alimentos, os seres humanos trocam em larga medida essas preocupações por outras. O preço que a nossa espécie pagou pela segurança de viver em grandes grupos de comunicadores em interacção com diferentes projectos consiste em ter de monitorizar esses projectos complexos e relações instáveis. Em quem posso confiar? Quem confia em mim? Quem são os meus rivais e os meus amigos? A quem devo e que dívidas deveria eu perdoar ou cobrar? O mundo humano fervilha com essa informação estratégica, para usar o termo de Pascal Boyer. Será que ela sabe que eu sei que ela quer deixar o marido? Será que alguém sabe que eu roubei aquele porco? Todos os enredos de todas as grandes sagas, tragédias e romances, mas também de todas as séries de televisão e livros aos quadradinhos dependem das tensões e complexidades que surgem, devido ao facto de os agentes no mundo não partilharem todos a mesma informação estratégica.
E se realmente existissem agentes que tivessem acesso a toda a informação estratégica?! Que ideia incrível! É fácil ver que um tal ser seria uma criação que atrairia a atenção, mas, para além desse facto, de que serviria? Por que seria mais importante do que qualquer outra fantasia? Bem, poderia ajudar as pessoas a simplificar os raciocínios que têm de ser feitos para descobrir o que fazer.
DENNETT, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ª edição, 2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores, pp. 111-112

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