sexta-feira, 18 de julho de 2008

E. MUNCH – O GRITO (1893)

Pintei os traços e as cores que afectaram o meu olhar interior.”
Edvard Munch nasceu em 1863 em Loten, na Noruega. A sua vida artística traz a marca inconfundível das impressões da infância e da juventude – a doença e a morte. A sua irmã Sophie, morre vítima de tuberculose com apenas quinze anos, Munch tem catorze. Aos cinco já tinha perdido a mãe com a mesma doença. Em 1889, desaparece-lhe o pai.
O medo da própria existência iria perseguir e orientar a vida do artista. “Sem medo e doença, a minha vida teria sido um barco sem rumo.”
Em 1893, pinta o Grito, obra que imortalizou o seu nome. Conhecem-se pelo menos cinquenta versões deste quadro.
O que prende o nosso olhar a esta obra de arte? É a cor de sangue das nuvens, longas plaquetas pastosas que se infiltram na pele disforme da figura central. “As cores gritavam. A Natureza gritava no meu sangue… Pintei esse quadro e as nuvens como se fossem realmente sangue.” O diário de Munch contém uma passagem, que faz lembrar esta cena: “Um dia ao entardecer, caminhava por uma estrada. De um lado a cidade, do outro o fiorde. Detive-me para contemplar este. O Sol estava a pôr-se e as nuvens estavam tingidas. Havia sangue e línguas de fogo por cima do fiorde azul – escuro e da cidade. Os meus amigos continuaram a andar e eu ali fiquei. Em pé, a tremer de medo e senti um grito infindável a atravessar a Natureza.”
O Grito exprime o sentimento de angústia, de isolamento, de terror, de destruição que invade o ser humano quando é aniquilado por forças que o ultrapassam. A angústia acentua-se na forma como a figura central está trabalhada, qual rosto de múmia, irreal, distorcida. A angústia espalha-se à sangrenta recta da estrada e à sinuosa linha do fiorde que mais parece a lava azulada de um vulcão que tudo devora à sua passagem, ficando apenas o vazio e a destruição.
Podemos interpretar este quadro numa dimensão mais vasta. Ele dá conta da crise de valores que assola o homem contemporâneo, (passagem do século XIX para o século XX). Fica no entanto a esperança da construção de novos valores nas duas personagens que caminham erectas no final da violenta recta da estrada.
Por que não, ver neste quadro, a necessidade do homem repensar os valores ecológicos? O que é que o ser humano está a fazer ao Planeta Terra, à Natureza? “Senti um grito infindável a atravessar a Natureza.” Esta também chora, quando o homem a agride.O poeta Rilke escreveu sobre os traços dos quadros de Munch que este foi capaz de reconciliar os opostos de destruição e preservação. Há mais Natureza do que aquilo que parece nas obras de Munch.
Isabel Laranjeira, professora de Filosofia da Escola Frei Rosa Viterbo - Sátão

2 comentários:

Anónimo disse...

me ajudou muito em uma trabalho de artes; valeu !

otimo Blog!

:)

Hermes disse...

Obrigado.