sexta-feira, 18 de julho de 2008

RUMO A UMA VIDA ÉTICA

Numa sociedade em que a norma é a procura tacanha do interesse próprio, a deslocação para uma postura ética é mais radical do que muitas pessoas crêem. Comparado com as necessidades das pessoas que morrem à fome na Somália, o desejo de provar os vinhos das principais vinhas de França torna-se insignificante.
Analisado à luz do sofrimento de coelhos imobilizados em cujos olhos se deitam gotas de champô, um melhor champô torna-se um objectivo indigno. A preservação de florestas seculares deveria sobrepor-se ao nosso desejo de usar papel de cozinha descartável. Uma abordagem ética da vida não proíbe a diversão nem o saborear de comida e bebida, mas altera o nosso sentido das prioridades. O esforço e o dinheiro dispendidos na compra de roupas da moda, a procura interminável de prazeres gastronómicos cada vez mais refinados, a diferença extraordinariamente grande de preços que existe entre o mercado de carros de prestígio e o mercado de automóveis para pessoas que apenas querem um meio fiável de ir de A a B – tudo isto se torna desproporcionado para as pessoas que conseguem alterar a sua perspectiva para se posicionarem, pelo menos durante algum tempo, fora do centro das atenções.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 403-404

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