sexta-feira, 11 de julho de 2008

O SEXO DA ÉTICA ii

Mais recentemente, algumas feministas reabilitaram a ideia de que as mulheres entendem a ética de modo diverso do homem. Grande parte do ímpeto para esta mudança veio do estudo de Carol Gilligan, Teoria Psicológica e Desenvolvimento da Mulher. Gilligan reagia contra o trabalho de Lawrence Kohlberg, psicólogo de Harvard que passou toda a sua vida activa a estudar o desenvolvimento moral das crianças. Fez isto perguntando às crianças o que fariam quando colocadas perante vários dilemas morais e classificando o seu nível de desenvolvimento moral de acordo com as respostas assim obtidas. Num dos dilemas, um homem chamado Heinz tem uma mulher que morrerá a menos que lhe seja administrado um medicamento que ele não consegue comprar por falta de dinheiro. O farmacêutico recusa-se a dar o medicamento a Heinz. Deve Heinz roubar o medicamento para salvar a mulher? Jake, um menino de onze anos, responde que Heinz deve roubar o medicamento e depois arcar com as consequências. Segundo Kohlberg, Jake revela assim entendimento das regras sociais e capacidade de princípios relativos a respeito pela propriedade e respeito pela vida humana. Por outro lado, Amy, uma menina com a mesma idade de Jake, centra-se mais na relação entre Heinz e a mulher, e também critica o farmacêutico por não ajudar uma pessoa moribunda. Sugere que Heinz insista com o farmacêutico, para ver se conseguem descortinar juntos uma solução para o problema. Kohlberg considera a resposta do rapaz como indicadora de um estádio superior de desenvolvimento moral, pois considera o problema a um nível mais abstracto e faz apelo a um sistema de regras e princípios. Gilligan salienta que Amy vê o universo moral em termos menos abstractos e mais pessoais, enfatizando as relações e responsabilidades existentes entre as pessoas. Isto pode ser diferente do modo como Jake encara a moral, mas não é por conseguinte inferior ou indicativo de um estádio inferior de desenvolvimento moral.
Nel Noddings afirma que as mulheres tendem menos do que os homens a ver a ética em termos de regras e princípios abstractos. As mulheres, crê Noddings, têm mais tendência a responder directamente a situações específicas com base numa atitude de atenção.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 312-313

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