quarta-feira, 2 de julho de 2008

CUIDAR DOS NOSSOS FILHOS

Não transmitimos os nossos genes espalhando simplesmente as nossas sementes e deixando as crias resultantes tratar de si o melhor que puderem. Ter filhos é apenas o primeiro passo. Se pretendermos que os nossos genes sobrevivam, os nossos filhos têm de viver o suficiente para terem os seus próprios filhos, que, por sua vez, outros filhos terão, e assim por diante. Por conseguinte, percebemos imediatamente que é necessário cuidarmos de um grupo muito importante de outros seres: os nossos filhos. Nem todos os pais se sujeitariam a uma delicada operação cirúrgica e dariam um rim por um filho, mas o facto de alguns o fazerem indica o ponto até ao qual cuidar dos nossos filhos nos pode levar a agir não egoisticamente, pelo bem de outra pessoa.
O facto das pessoas colocarem frequentemente os interesses dos filhos acima dos seus próprios interesses é algo que tomamos por adquirido. O amor dos pais pelos filhos é tão básico na natureza humana que, quando, ocasionalmente, as pessoas se comportam de formas aberrantes que revelam negligência ou falta de cuidado com os filhos, não conseguimos compreender como uma mãe ou um pai conseguem não ter algo que nos é tão natural. Estamos mais dispostos a perdoar as mães que recorrem à prostituição para alimentar os filhos do que as mães que os negligenciam ou abandonam.
A prontidão dos pais em colocar os interesses dos filhos acima dos seus próprios interesses é um notável contra-exemplo da tese geral de que as pessoas são egoístas. Quando os pais confortam um bebé que chora, não o fazem porque pensam no tempo, vinte ou trinta anos mais tarde, em que a criança os poderá sustentar, na velhice. Reagem directamente ao amor que sentem pelo bebé e à empatia com a imagem de aflição que um bebé a chorar representa – especialmente quando se trata do nosso bebé.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 168-173

2 comentários:

Anónimo disse...

estes putos de hoje em dia andam muito mimados!!!! rua com eles!!!

Hermes disse...

Esses "putos" são o grande capital de investimento de todas as sociedades. Uma sociedade que não invista nas crianças e jovens é uma sociedade condenada à partida. A importância do investimento nas crianças é desde cedo compreendido pelos pais. Essa compreensão é simultaneamento social, cultural e biológica.
António Paulo