quinta-feira, 22 de abril de 2010

OS TERRORISTAS E OS COMBATENTES DA LIBERDADE


Qual é a diferença entre um terrorista e um combatente da liberdade?

Ser terrorista é aquele (ou aquela) que pretende alcançar os seus fins aterrorizando inocentes, ou mediante a ameaça de uso de tal expediente, e combatente da liberdade é aquele (ou aquela) que se envolve numa luta para libertar a população de um governante tirânico. Houve alguns combatentes da liberdade que foram terroristas, houve alguns combatentes da liberdade que não foram terroristas, e houve alguns terroristas que não foram combatentes da liberdade. Se “terrorista” refere a pessoa que adopta um meio específico “combatente da liberdade” caracteriza a pessoa atendendo aos fins que ela persegue, é de esperar que ocorra cruzamentos e sobreposições entre as classificações.

No discurso político público contemporâneo, estas designações são menos utilizadas para descrever a realidade do que para exprimir a aprovação ou condenação política de quem as emprega. Chamar “combatente da liberdade” a uma pessoa é louvá-la; apontá-la como terrorista é condená-la liminarmente. É evidente que estes juízos morais têm cabimento, mas quando o discurso político consiste apenas em tais juízos, sem que os acompanhe uma justificação ponderada do uso que deles está a ser feito, então está garantida a degradação do próprio discurso.

Acrescente-se que estamos perante definições um tanto imprecisas, pelo que não se pode esperar que sejam de grande utilidade quando se trata de descrever a complexidade das situações do mundo real. Além do mais, são definições susceptíveis de induzir em erro, dado encorajarem a ideia de que a técnica de aterrorizar inocentes é principalmente utilizada por indivíduos singulares, e eventualmente por grupos relativamente pequenos, quando, na realidade, dispomos de dados mais que suficientes para argumentar que as mais notáveis exemplificações de práticas terroristas foram perpetradas por governos. O discurso político seria mais salutar se se abandonassem os rótulos, se se deixasse de olhar para o imenso e variado mundo através de fendas tão estreitas, e se se procurasse descrever as coisas directamente, com clareza, e com honestidade.

GEORGE, Alexander (org), Que Diria Sócrates, 1ª edição, 2008. Lisboa: Gradiva, pp.123-124

Sem comentários: