domingo, 13 de dezembro de 2009

O SUBJECTIVISMO EM ÉTICA iv



1. O primeiro argumento era que se o subjectivismo simples está correcto, então somos todos infalíveis no que respeita aos juízos morais; mas não somos, por certo, infalíveis; portanto, o subjectivismo simples não pode estar correcto.
Este argumento só é eficaz porque o subjectivismo simples interpreta os juízos morais como afirmações que podem ser verdadeiras ou falsas. «Infalível» significa que os juízos de alguém são sempre verdadeiros; e o subjectivismo simples atribui aos juízos morais um significado que será sempre verdadeiro desde que o interlocutor seja sincero. É por isso que, nessa teoria, as pessoas acabam por ser infalíveis. O emotivismo, por outro lado, não interpreta os juízos morais como afirmações verdadeiras ou falsas; e por isso o mesmo argumento não funciona contra ele. Uma vez que as ordens e as expressões de atitudes não são verdadeiras nem falsas as pessoas não podem ser «infalíveis» em relação a elas;
2. O segundo argumento tinha que ver com o desacordo moral. Se o subjectivismo simples estiver correcto, então quando uma pessoa afirma «X é moralmente aceitável« e outra pessoa afirma «X é moralmente inaceitável» não estão realmente a discordar. Estão, na verdade, a falar de coisas inteiramente diferentes - cada uma está a fazer uma afirmação sobre a sua atitude, com a qual a outra poderá prontamente concordar. Mas, prossegue o argumento, as pessoas que dizem estas coisas estão realmente em desacordo, e por isso, o subjectivismo simples não pode estar correcto.
O emotivismo sublinha que há mais de uma maneira pela qual as pessoas podem discordar. Compare-se estes dois tipos de desacordo:
" Primeiro: Uma pessoa pensa que Lee Harvey Oswald agiu sozinho no assassinato de John Kennedy, e outra pensa que houve conspiração. Isto é um desacordo sobre os factos - uma pessoa pensa ser verdadeiro algo que outra pensa ser falso.
Segundo: Uma pessoa defende legislação para o controlo de armas de fogo e outra opõe-se a isso. Neste caso não são as crenças das pessoas que estão em conflito mas sim os seus desejos - uma quer que aconteça algo que a outra não quer. (Ambas podem estar de acordo sobre todos os factos que rodeiam a controvérsia sobre o controlo de armas de fogo e mesmo assim tomar posições diferentes quanto ao que querem ver realizado.)
No primeiro tipo de desacordo, acreditamos em coisas diferentes, não podendo ambas ser verdadeiras. No segundo, queremos coisas diferentes, não podendo ambas realizar-se. Stevenson chama desacordo de atitude ao último tipo de desacordo, e distingue-o do desacordo sobre atitudes. Duas pessoas podem concordar em todos os juízos que fazem sobre atitudes: concordam que uma se opõe ao controlo de armas, e que a outra é a favor. Mas mesmo assim não estão de acordo nas suas atitudes. Os desacordos morais, afirma Stevenson, têm esta foram: são desacordos de atitude. O subjectivismo simples não podia explicar o desacordo moral porque este desaparecia, uma vez que interpretava os juízos morais como afirmações sobre atitudes.
O subjectivismo simples era uma tentativa de captar a ideia de base do subjectivismo ético e exprimi-la de uma forma aceitável. Meteu-se em sarilhos porque presumiu que os juízos morais são declarações sobre atitudes. O emotivismo era melhor porque se libertou da pressuposição problemática e a substituiu por uma perspectiva mais sofisticada do funcionamento da linguagem moral. Mas, como veremos de seguida, o emotivismo teve também as suas dificuldades. Um dos seus principais problemas era não poder dar conta do lugar da razão na ética.

Elementos da Filosofia Moral, James Rachels, Gradiva - (Colecção Filosofia Aberta, pp. 63-5)

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