quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O SUBJECTIVISMO EM ÉTICA ii


O Subjectivismo simples não dá conta da nossa falibilidade. Ninguém é infalível. Estamos por vezes errados nas nossas avaliações e quando o descobrimos podemos querer corrigir os nossos juízos. Mas, se o subjectivismo simples estivesse correcto, isso seria impossível, porque o subjectivismo simples pressupõe que somos infalíveis.
Considere-se Falwell, que considera a homossexualidade imoral. Segundo o subjectivismo simples, Falwell está simplesmente a afirmar que desaprova a homossexualidade. É claro que há a possibilidade de não estar a falar sinceramente – é possível que ele não desaprove realmente a homossexualidade, mas esteja simplesmente a responder às expectativas da sua audiência conservadora. No entanto, se supusermos que está a falar sinceramente – se supusermos que Falwell desaprova mesmo a homossexualidade –, segue-se então que o que ele diz é verdade. Enquanto estiver honestamente a representar os seus sentimentos não pode estar enganado.
Mas isto contradiz o facto elementar de nenhum de nós ser infalível. Por vezes estamos errados Portanto, o subjectivismo simples não pode estar correcto.
O subjectivismo simples não dá conta do desacordo. O segundo argumento contra o subjectivismo simples baseia-se na ideia de que esta teoria não pode explicar a existência de desacordo moral. Matt Foreman não pensa que a homossexualidade seja imoral. Perante isto, parece que ele e Falwell discordam. Mas repare-se o que o subjectivismo simples sugere quanto a esta situação.
Segundo o subjectivismo simples, quando Foreman afirma que a homossexualidade não é imoral está simplesmente a declarar a sua atitude – está a dizer que ele, Foreman, não desaprova a homossexualidade. Falwall discordaria disso? Não, Falwall estaria de acordo que Foreman não desaprova a homossexualidade. Simultaneamente, quando Falwall afirma que a homossexualidade é imoral, está apenas a dizer, que ele Falwall, a desaprova. Como poderia alguém discordar disso? Assim, segundo o subjectivismo simples, não há desacordo entre eles; cada um deveria admitir a verdade do que o outro está a dizer. No entanto, parece evidente que algo não está certo aqui, pois Falwell e Forema discordam realmente sobre a questão de saber se a homossexualidade é imoral ou não.
Há uma espécie de frustração eterna implícita no subjectivismo simples: Falwell e Foreman estão em profundo desacordo; no entanto, não podem sequer apresentar as suas posições de forma a debater o tema em conjunto. Foreman pode tentar negar o que Falwell afirma, mas, segundo o subjectivismo simples, apenas consegue mudar de assunto.
O argumento pode ser resumido assim: Quando uma pessoa afirma «X é moralmente aceitável» e alguém diz «X é moralmente inaceitável», estão em desacordo. No entanto, se o subjectivismo simples estivesse correcto não haveria desacordo entre eles. Logo, o subjectivismo simples não pode estar correcto.
Estes argumentos, e outros semelhantes, mostram que o subjectivismo simples é uma teoria falhada. Não pode ser sustentada, pelo menos de uma forma tão rígida. Perante tais argumentos, alguns pensadores preferiram rejeitar o subjectivismo ético no seu todo. Outros, no entanto, esforçaram-se por produzir uma versão melhorada da teoria que não fosse vulnerável a tais objecções.
Elementos de Filosofia Moral, James Rachels, Gradiva, (Colecção Filosofia Aberta - pp 59- 60)

Sem comentários: