A segunda fase: o emotivismo
A versão melhorada é uma teoria que se tornou conhecida como «emotivismo». Desenvolvida principalmente pelo filósofo americano Charles L. Stevenson (1908-1979), o emotivismo tornou-se uma das teorias éticas mais influentes do século XX. É muito mais subtil e sofisticada do que o subjectivismo simples.
O emotivismo começa com a observação de que a linguagem é usada de várias maneiras. Um dos seus usos principais é a afirmação de factos, ou pelo menos a afirmação do que pensamos serem factos. Podemos, assim, dizer:
«Abraham Lincoln foi presidente dos Estados Unidos.»
«Tenho um encontro às quatro horas.»
«A gasolina custa 0,970 cêntimos por litro.»
«Shakespeare é o autor de Hamelt.»
Em cada caso estamos a dizer algo que é verdadeiro ou falso, e o propósito da elocução é, normalmente, comunicar informação ao ouvinte.
No entanto, há outros propósitos para os quais a linguagem pode ser usada. Suponha-se que digo: «Fecha a porta!» esta elocução não é verdadeira nem falsa. Não é uma afirmação de tipo algum; é uma ordem, o que é algo diferente. O seu propósito não é transmitir informação; o seu propósito é, antes, levar alguém a fazer qualquer coisa. Não estou a tentar alterar as crenças de alguém; estou a tentar influenciar a conduta.
Considere-se elocuções como as seguintes, que não são afirmações de facto nem ordens:
«Um viva por Abraham Lincoln!»
«Ai de mim!»
«Quem me dera que a gasolina não fosse tão cara!»
«Que se dane o Hamlet.»
Estes são tipos comuns de frases que entendemos com bastante facilidade. Mas nenhuma delas é «verdadeira» ou «falsa». (Não faz sentido dizer: «É verdade que um viva por Abraham Lincoln» ou «É falso que ai de mim»). estas frases não são, recorde-se, usadas para afirmar factos. São usadas, isso sim, para exprimir as atitudes do interlocutor.
É preciso notar claramente a diferença entre relatar uma atitude e exprimir essa mesma atitude. Se alguém disser «Gosto de Abraham Lincoln», está a comunicar o facto de ter uma atitude positiva em relação a Lincoln. Isto é uma afirmação de facto, que é verdadeira ou falsa. Por outro lado, se alguém gritar: «Um viva por Lincoln!», não está a declarar qualquer tipo de facto, nem mesmo um facto sobre as suas atitudes. Está a exprimir uma atitude, mas não a relatar que a tem.
Com estes reparos em vista, voltemos agora a atenção para a linguagem moral. Segundo o emotivismo, a linguagem moral não é uma linguagem de afirmação de factos; não é normalmente usada para transmitir informação. O seu propósito é diferente. É usada, primeiro, como um meio de influenciar o comportamento das pessoas. Se alguém diz «Não deves fazer isso», essa pessoa está a tentar impedir outra de o fazer. A elocução é, pois, mais parecida a uma ordem do que a uma afirmação de facto; é como se a pessoa tivesse dito: «Não faças isso!» em segundo lugar, a linguagem moral é usada para exprimir (e não para relatar) a atitude de alguém. Afirmar: «Lincoln era um homem bom», não é o mesmo que afirmar «Eu gosto de Lincoln», mas é como dizer »Um viva por Lincoln!»
A diferença entre o emotivismo e o subjectivismo simples deve agora ser óbvia. O subjectivismo simples interpretava as afirmações éticas como afirmações de facto de um tipo especial - nomeadamente como relatos da atitude do interlocutor. Sgundo o subjectivismo simples, quando Falwell afirma «A homossexualidade é imoral», isto significa o mesmo que »Eu (Falwell) desaprovo a homossexualidade» - uma afirmação de facto sobre a atitude de Falwell. O emotivismo, por seu lado, nega que esta elocução declare qualquer facto, mesmo um facto sobre o próprio interlocutor. Em vez disso, o emotivismo interepreta a elocução de Falwell como equivalente a algo como «A homossexualidade - que horror!» ou «Não se envolva em actos homossexuais!», ou ainda «Quem me dera não existisse homossexualidade».
Isto pode parecer uma distinção picuinhas e trivial com a qual não vale a pena preocuparmo-nos. Mas do ponto de vista teórico trata-se, na realidade, de uma diferença importante. Uma forma de verificar isso é considerar novamente os argumentos contra o subjectivismo simples. Embora esses argumentos fossem muito embaraçosos para o subjectivismo simples não afectam em nada o emotivismo.
Elementos da Filosofia Moral, James Rachels, Gradiva - (Colecção Filosofia Aberta -pp. 61-3)
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