segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ÉTICA E LIVRE - ARBÍTRIO iii


Avaliar as pessoas como boas ou más.Poderemos continuar a considerar as pessoas boas ou más se elas não tiverem livre-arbítrio? Pode parecer surpreendente que diga isto, mas não vejo razão para pensar que não. Mesmo que não tenham livre-arbítrio, as pessoas não deixarão de ter virtudes e vícios. Continuarão a ser corajosas ou cobardes, benevolentes ou cruéis, generosas ou gananciosas. Um assassino não deixará de ser um assassino - e continuará a ser mau ser um assasssino. Obviamente, pode ser possível explicar as más acções de uma pessoa como resultado dos seus genes, da sua história ou da química do seu cérebro. Isto pode levar-nos a ver essa pessoa como alguém que teve azar nas circunstâncias que a fizeram tornar-se naquilo que é. Porém, isto não significa que ela não seja má. Precisamos de distinguir a) a questão de saber se alguém é má pessoa de b) a questão de saber como alguém se tornou má pessoa. Uma explicação causal do carácter de uma pessoa não implica que ela não seja má. Mostra apenas como ela se tornou má.
(...) Eric Rudolph foi acusado pelo FBI de ter realizado um atentado à bomba a uma clínica de aborto, no qual um polícia morreu e uma enfermeira ficou terrivelmente ferida. A história da vida de Rudolph fornece amplas provas de que ele não foi responsável por se ter tornado assim. Conhecendo o seu passado, podemos acabar por considerar que ele apenas teve o azar de ter tido uma vida infortunada. Como se costuma dizer, graças a Deus que não somos assim. Contudo, podemos continuar a pensar que Rudolph é um homem mau, já que, afinal ele é um assassino. Ele dispôs-se deliberadamente a maltratar pessoas inocentes. Agora, no entanto, compreendemos melhor o que o fez ficar assim.

Problemas da Filosofia, James Rachels -Gradiva, (Colecção Filosofia Aberta, pp. 199-200)

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