terça-feira, 17 de novembro de 2009

A RESPOSTA LIBERTISTA


O Libertismo é a perspectiva de que pelo menos algumas das nossas acções são livres porque, na verdade, não estão causalmente determinadas. Segundo esta teoria, as escolhas humanas não estão constrangidas da mesma forma que outros acontecimentos do mundo. Uma bola de bilhar, quando é atingida por outra bola de bilhar, tem de se mover numa certa direcção a uma certa velocidade. Não tem escolha. As leis causais determinam rigorosamente o que irá acontecer. Contudo, uma decisão humana não é assim. Neste preciso momento, o leitor pode decidir continuar a ler ou parar de ler. Pode fazer qualquer uma destas coisas e nada o faz escolher uma delas. As leis causais não têm poder sobre si
Isto não é muito plausível. Ainda assim, esta forma de pensar foi defendida por diversos filósofos e propuseram-se vários argumentos a seu favor.

O argumento da experiência.
Podemos começar com a ideia de que sabemos que somos livres porque cada um de nós apercebe-se imediatamente de ser livre cada vez que faz uma escolha consciente. Pense novamente no que está a fazer neste momento: ler uma página que está diante de si. Pode continuar a ler ou parar de ler. O que irá fazer? Pense na sensação que tem agora, enquanto pondera estas opções. Não sente constrangimentos. Nada o impede de seguir numa direcção nem o força a fazê-lo. A decisão é sua. A experiência de liberdade, poder-se-á dizer, é a melhor prova que podemos ter.
Isto pode não parecer muito um argumento, dado que a sua «sensação de ser livre» pode ser uma ilusão. Talvez se sinta livre apenas porque não está consciente das forças causais em acção. Ainda assim, considere o seguinte: antes de rejeitarmos uma crença em que temos uma grande confiança, devemos dispor de provas da sua falsidade em que tenhamos ainda mais confiança. E podemos ter uma confiança na nossa experiência de liberdade maior do que a que poderemos ter em quaisquer argumentos contra o livre-arbítrio.
Na sua discussão com Boswell, Samuel Johnson avançou esta ideia quando disse: «Estás mais certo de poder levantar o teu dedo como te apetecer do que de qualquer conclusão de uma dedução ou raciocínio. (…) Toda a teoria está contra o livre-arbítrio; toda a experiência está a seu favor.» E a experiência, pensava o Dr. Johnson, é mais certa do que meras teorias.
Aqui a ideia geral pode ser inatacável. Quando temos experiência directa de uma coisa, devemos querer provas muito fortes antes de deixarmos de acreditar nela. No entanto, o problema é que as provas contra o livre-arbítrio tendem a destruir a confiança na nossa experiência. José Delegado descobriu que podia levar as pessoas a fazer coisas estimulando electricamente o seu cérebro, como olhar por cima do seu ombro, e que depois elas davam razões para o que tinham feito, como «Estava à procura da minha almofada». Os pacientes de Delegado, que não sabiam que o seu cérebro estava a ser estimulado, tinham experiência de que os seus movimentos eram voluntários. Talvez sejamos como eles. Que diferença existirá entre nós e eles, a não ser o facto de sabermos qual é, no contexto experimental, o acontecimento electroquímico que causa a acção, enquanto na vida quotidiana ignoramos o que está a acontecer no nosso cérebro? Perante estas provas, não faz sentido insistir com o Dr. Johnson que pura e simplesmente sabemos que somos livres. É preciso um argumento melhor para defender a liberdade.

Problemas da Filosofia, James Rachels - Gradiva, (Colecção Filosofia Aberta, 2009, pp 183-5)

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