quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ARGUMENTOS


É necessário procurar os argumentos ou razões que os filósofos apresentam a favor das suas ideias. Um argumento é muito diferente de uma simples afirmação. Uma afirmação ou proposição não nos dá qualquer razão para a aceitarmos; limita-se a declarar algo que pode ser verdadeiro ou falso (ainda que ninguém saiba se é verdadeiro ou falso) Eis alguns exemplos de afirmações:

O livre-arbítrio é uma ilusão.
A ética é relativa à sociedade.
Não é possível definir a arte

Como se vê, podemos concordar ou discordar destas afirmações, mas as próprias afirmações não oferecem qualquer razão para as aceitarmos. As afirmações contrastam com os argumentos:
Um argumento é um conjunto de afirmações de tal modo organizadas que se pretende sustentar uma delas (a conclusão) recorrendo às outras (as premissas).
Eis um exemplo de um argumento:

1. A ciência mostra-nos que, à excepção de mundo atómico, tudo está causalmente determinado.
2. Se tudo está causalmente determinado, não pode haver livre-arbítrio.
3. Logo, não há livre-arbítrio.

As afirmações 1 e 2 são as premissas, a afirmação 3 é a conclusão. Os argumentos, ao contrário das premissas e conclusões, não são verdadeiros nem falsos. Os argumentos são válidos ou inválidos.
Um argumento é válido quando é impossível, ou muitíssimo improvável, que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.
Isto significa que quando um argumento é válido não podemos aceitar as premissas e rejeitar a conclusão. Mas quando um argumento é inválido podemos aceitar as premissas e recusar a conclusão.
Não basta, que um argumento seja válido para ser bom. É preciso que seja também sólido:

Um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras.

Um argumento sólido não pode ter conclusão falsa. Isto significa que, se estamos perante um argumento sólido, temos de aceitar a sua conclusão.
Não basta, contudo, que um argumento seja sólido para ser bom. É preciso que: além de sólido, tenha permissas mais plausíveis do que a sua conclusão.
Assim, para argumentar correctamente, é necessário usar argumentos sólidos com premissas mais plausíveis do que a conclusão. Quando as premissas não são mais plausíveis do que a conclusão, quem não concorda com a conclusão também não irá concordar com as premissas. É por isso que alguns argumentos sólidos não são bons. Por exemplo, o seguite argumento não é bom, mesmo que seja sólido, porque as suas premissas não são mais plausíveis do que a sua conclusão:

Se Deus existe, a vida faz sentido.
Deus existe.
Logo, a vida faz sentido.

Neste caso, as premissas não oferecem boas razões para aceitar a conclusão, pois aquelas são, no mínimo, tão discutíveis como esta. Assim, é difícil fazer alguém aceitar a conclusão com base em premissas que suscitam tão grande discussão. A força de um argumento nunca é superior à força da mais discutível das suas premissas.
Um argumento bom ou forte obedece a três condições:

1. É válido;
2. É sólido;
3. Tem premissas mais plausíveis do que a conclusão.

Assim, ao discutir os argumentos dos filósofos é necessário não apenas saber se os seus argumentos são válidos, mas também se partem de premissas palusíveis - mais plausíveis do que a conclusão a que desejam chegar.


Textos e Problemas da Filosofia, Organização de Aires Almeida e Desidério Murcho, Plátano Editora - pp.15-16

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