sábado, 14 de fevereiro de 2009

Duas perspectivas sobre o problema do mal


Introdução
Neste trabalho, analiso o problema do mal na perspectiva teísta de Richard Swinburne e na perspectiva ateísta de John L. Mackie. Analiso os argumentos apresentados por estes dois filósofos para explicar este problema, bem como as conclusões a que ambos chegam. Ao analisar os argumentos não posso deixar de os examinar e discutir, levantando objecções sempre que tal se justificar. A partir da análise do problema do mal visto por estes dois filósofos, argumento que só se pode conceber Deus ou como omnipotente mas não perfeitamente bom, ou como perfeitamente bom mas não omnipotente, uma vez que, se Deus fosse perfeitamente bom e omnipotente, nunca poderia permitir o mal.
Dado que o artigo de John L. Mackie em que me baseio para elaborar este trabalho está na língua original (inglesa), todas as citações que faço a partir do mesmo neste trabalho são traduzidas directamente por mim para a língua portuguesa, quer porque é a minha própria língua, quer porque é a língua em que todo o trabalho está redigido, quer mesmo para facilitar a leitura do trabalho a alguém que possa, eventualmente, vir a estar interessado em lê-lo e não conheça a língua inglesa.
A questão fundamental: o problema do mal e a existência de deus
O mal é uma realidade evidente e cuja presença no mundo é inegável. Em todo o mundo, acontecem todos os dias inúmeros casos em que o mal está presente, desde as mais comuns situações de injustiça, aos mais brutais casos de sofrimento, de miséria e de infelicidade. Ao mesmo tempo, continua-se, ainda hoje, a afirmar que Deus existe, atribuindo-lhe qualidades como a infinita justiça, a infinita bondade e a perfeição absoluta, a par da omnipotência, da omnipresença e da omnisciência.
Ora, a questão que se põe é a seguinte: se Deus, o suposto Criador do mundo, existe realmente, e se é de facto infinitamente bom e infinitamente justo, ao mesmo tempo que é omnipotente (ou seja, pode tudo), omnipresente (ou seja, está em toda a parte e tudo presencia), e omnisciente (ou seja, sabe tudo), então, como pode haver tanto mal num mundo criado e controlado por esse Deus perfeito? Se Deus existe, se é assim perfeito e se tem estas qualidades, por que razão não impede o mal? Por que permite que haja tanta injustiça, tanto sofrimento e tanta miséria?
Esta é a questão fundamental do problema do mal, que se lança como argumento central para a negação da existência de Deus, ou, pelo menos, para a negação destes predicados que normalmente lhe são atribuídos e reconhecidos.
O problema do mal é uma das questões mais interessantes e importantes de que os filósofos se ocupam na filosofia da religião, havendo, actualmente, duas posições que procuram oferecer uma resposta séria para este problema: 1) os teístas, que procuram afirmar que a existência de Deus é compatível com o problema do mal, e 2) os ateístas, que procuram negar a existência de Deus, ou, pelo menos, a concepção de Deus como ser perfeitamente bom e justo, em consequência do problema do mal. Passo a apresentar, a analisar e a discutir as perspectivas e os argumentos de dois dos filósofos que estudam esta questão.

Miguel Moutinho

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