sábado, 18 de outubro de 2008

O “NOVO” HOMEM

Até ao advento do curto período em que se produziu a alfabetização geral, a cultura escrita mostrou mesmo agudos efeitos selectivos. Fracturou profundamente as sociedades, abriu um fosso entre literatos e iletrados, cuja infranqueabilidade quase se fixou na rigidez de uma diferença específica. Se quisermos ainda falar outra vez de modo antropológico, poderíamos definir os homens dos tempos históricos como animais, dos quais uns sabem ler e escrever, e outros não. A partir daqui só vai um passo – embora de enormes consequências – até à tese de que os homens são animais, nos quais uns criam e disciplinam os seus semelhantes, ao passo que os outros são criados: um pensamento que, desde as reflexões platónicas sobre a educação e o Estado, já pertence ao folclore pastoral dos europeus. Algo aqui recorda a frase de Nietzsche de que entre os que vivem nas casas pequenas são poucos os que querem, ao passo que a maioria só é querida. Ora, ser querido significa existir meramente como objecto, não como sujeito de selecção.
SLOTERDIJK, Peter, Regras para o Parque Humano, 2007. Coimbra: Angelus Novus, Editora, pp. 61-62

2 comentários:

Anónimo disse...

Se toda essa conversa acerca de Sócrates, do pensar por si, do pensamento crítico, etc., é para levar a sério, porque é que a maioria dos blogs e sites de filosofia quase nunca têm um único texto escrito pelos próprios autores? Porque é que é só citações? Fica-se com a impressão que alguns professores de filosofia falam muito de pensar mas não pensam, falam muito de autonomia e não são autónomos, falam muito de espírito crítico e nunca criticam - nomeadamente as suas próprias atitudes.

Hermes disse...

Caro anónimo
Não sei qual o móbil da sua atitude mas parece-me que anda com a pontaria desafinada.
Este blog tem unicamente a pretensão de apoiar a leccionação das aulas de filosofia e por isso costumo publicar um conjunto de textos que acho interessantes e que vão ao encontro do actual programa de filosfia do secundário. É por isso que a maior parte dos textos são etiquetados de acordo com as disiplinas e problemas filosóficos abordados no secundário. Se algum colega achar algum proveito nalguns textos publicados isso deixa-me satisfeito. Não é por isso pretensão do site ser uma verve crítica. Poderia sê-lo mas não foi com esse prpósito que nasceu. Mas também poderia (como muitos sites e blogs que há por aí publicar um conjunto de textos sem citar a fonte, fazendo crer que são do autor do blog. Essa desonestidade intelectual este blog não faz.
Enquanto à crítica das atitudes, não tenho nenhuma que me envergonhe, merecedora de crítica, já a atitude de escrever sob o manto diáfano do anonimato (com uma pedra escondida atrás das costas) já é merecedora de crítica e nomeadamente de auto-crítica.Comece por aí...por aí o tiro seria mais certeiro.