sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A NATUREZA IMITA A ARTE


Tudo o que desejo sublinhar é o princípio geral segundo o qual a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida, e estou certo de que, se pensares a sério na questão, verás que é verdade. A Vida ergue um espelho em frente à Arte, e, ou reproduz algum tipo estranho imaginado por qualquer pintor ou escultor, ou realiza de facto aquilo que foi sonhado na ficção. De um ponto de vista científico, a base da vida – a energia da vida, como lhe chamaria Aristóteles – é simplesmente o desejo de expressão, e a Arte está continuamente a apresentar várias formas das quais uma tal expressão pode ser conseguida. A Vida apossa-se delas e usa-as, mesmo se em detrimento próprio.
A Natureza é, não em menor grau que a vida, uma imitação da Arte.
De onde, se não dos Impressionistas, vieram esses maravilhosos nevoeiros castanhos que vemos cair sobre as nossas ruas, esbatendo os candeeiros a gás e tornando as suas casas monstruosas? A Natureza não é nenhuma grande mãe que nos tenha gerado. É uma criação nossa. É no nosso cérebro que ela ganha vida. As coisas existem porque as vemos, e aquilo que vemos, e o modo como o vemos, depende das Artes que nos tiverem influenciado. Olhar para uma coisa é bem diferente de ver uma coisa. Ninguém vê uma coisa até ver a sua beleza. É nesse momento, e unicamente nesse momento, que ela se torna existente. Actualmente, as pessoas vêem nevoeiros, não porque haja nevoeiros, mas porque poetas e pintores lhes ensinaram o misterioso encanto de tais efeitos.
WILDE, Oscar, Intenções, 3ª edição, 2006. Lisboa: Livros Cotovia, pp. 40-42

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