segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ARTE E NATUREZA

Gozar a Natureza! Fico contente por poder dizer-te que perdi por completo a capacidade de o fazer. As pessoas dizem-nos que a Arte nos leva a amar a Natureza mais do que antes a amávamos, que nos revela os seus segredos, e que, depois de um estudo cuidadoso de Corot e de Constable, nos faz ver coisas nela que antes haviam escapado à nossa atenção. A minha experiência pessoal é que, quando mais estudamos a Arte, menos nos interessamos pela Natureza. O que a Arte realmente nos revela é a ausência de ordem na Natureza, as suas cruezas bizarras, a sua extraordinária monotonia, o seu estado irreparavelmente inacabado. A Natureza está cheia de boas intenções, é claro, mas, como disse uma vez Aristóteles, é incapaz de as pôr em prática. Quando olho para uma paisagem, não consigo deixar de ver todos os seus defeitos. E, no entanto, é uma sorte para nós que a Natureza seja tão imperfeita, pois, de outro modo, não teríamos tido arte absolutamente nenhuma. A Arte é o nosso protesto sanguíneo, a nossa tentativa galante de ensinar à Natureza o seu verdadeiro lugar. Quanto à infinita variedade da Natureza, não passa de um puro mito. Não é nada que essa infinidade se encontra. Reside antes na imaginação, na fantasia, ou na cegueira calculada do homem que para ela olha.
WILDE, Oscar, Intenções, 3ª edição, 2006. Lisboa: Livros Cotovia, p. 15

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