sexta-feira, 14 de novembro de 2008

METAÉTICA: INTRODUÇÃO

Estas vão ser aulas de metaética. Na metaética o que nos interessa não é descobrir respostas para questões morais – esse é o objectivo da ética normativa –, mas tentar compreender questões como as seguintes. Será que as questões morais são questões que têm realmente respostas? E, se têm, como é isso possível? Existem verdades morais cuja descoberta é o objectivo da ética normativa? Se existem, qual é a melhor perspectiva filosófica para as compreender? Se não existem, em que situação é que ficamos?
Realismo moral
Uma questão central será a do realismo moral. O que se entende por isso? Bom, devo avisá-los que na verdade o termo «realismo moral» é um termo extremamente ambíguo que autores diferentes entendem de maneira diferente. Por agora vou ser razoavelmente vago. Digamos que alguém é um realista moral se acredita que os juízos morais que fazemos na ética normativa podem ser – e por vezes são – verdadeiros, e que aquilo que os torna verdadeiros é um acordo com um domínio de factos morais objectivos.
Hoje existem muitas posições filosóficas que envolvem negar de alguma maneira a existência de factos morais objectivos – o emotivismo, por exemplo, e o relativismo. Mas podemos chamar anti-realismo (ou irrealismo) à posição que nega simplesmente a existência de factos morais objectivos.
Podemos encontrar tal posição expressa, por exemplo, por Wittgenstein na sua «Lecture on Ethics», uma conferência proferida em Oxford no fim dos anos vinte do século passado [DGR, 3]. Nesta conferência, Wittgenstein convida o seu auditório a fazer a seguinte experiência mental. Imagine-se que há uma pessoa omnisciente. Essa pessoa conhece todos os factos do mundo: conhece todos os movimentos de todos os corpos que constituem o universo desde a sua origem até ao seu termo, conhece todos os factos psicológicos relativos a todos os pensamentos de todas as pessoas que alguma vez viveram. E o mesmo se verifica noutros domínios: tudo o que é um facto ele conhece. Imagine-se agora que esta pessoa escreve um livro enorme em que indica todos os factos que conhece, ou seja, todos os factos do mundo. Esse livro, defende depois Wittgenstein, não incluiria quaisquer proposições éticas. Obviamente, incluiria proposições sobre os acontecimentos a que atribuímos importância ética. Incluiria assim descrições de vários assassinatos desagradáveis, e incluiria proposições sobre as nossas atitudes éticas. Deste modo, poderia dizer-nos que esses assassinatos foram condenados ou considerados errados nas sociedades em que ocorreram. Mas o livro não incluiria o facto de um certo assassinato ser errado, perverso ou mau, pois, diz Wittgenstein, tais factos não existem.
Folheando este livro enorme de todos os factos, poderíamos encontrar certos factos – por exemplo, os factos sobre o 11 de Setembro – que consideraríamos especialmente terríveis e chocantes; e poderíamos encontrar outros factos – talvez relativos àquilo que algumas pessoas fazem nas organizações de beneficência – que consideraríamos particularmente bons e comoventes. Mas dizer que os primeiros destes factos são factos terríveis e que os segundos são factos bons não é indicar outros factos. Seguramente seria um facto termos essas reacções, esses sentimentos de consternação ou satisfação, mas não existiriam quaisquer factos que correspondessem a esses sentimentos.
Por que razão havemos de negar a existência de factos objectivos? Aqui vale a pena concentrarmo-nos em J. L. Mackie, um autor mais recente. Vamos examinar preliminarmente algumas das coisas que Mackie diz no capítulo inicial do seu livro de 1977, Ethics: Inventing Right and Wrong [excerto: DGR. 6]. O capítulo apresenta uma abordagem extremamente influente a estas questões que nos proporciona um enquadramento apropriado para o que virá mais tarde. J. L. Mackie não era um realista moral. Segundo Mackie, não há quaisquer valores morais objectivos. Ele apresenta-nos dois argumentos a favor desta ideia: o Argumento da Relatividade e o Argumento da Esquisitice.
James Lenman
Retirado de www.spfil.pt/trolei/

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