segunda-feira, 17 de novembro de 2008

METAÉTICA: INTRODUÇÃO iii

Parte III
Anti-Realismo: O Argumento da Esquisitice
Examinemos agora o outro argumento de Mackie, o Argumento da Esquisitice: «Se existissem valores objectivos», escreve, «estes seriam entidades, qualidades ou relações de um género muito estranho, radicalmente diferentes de tudo o resto no universo.» [p. 95] Na verdade, este argumento desenvolve-se em três conjuntos distintos de considerações.
Explicação
Encontramos considerações sobre explicação: se existem valores objectivos, como poderemos alguma vez descobrir algo sobre eles?
Este é um facto não-ético: há alguns seres humanos neste quarto. E este facto é natural, ou seja, é o género de facto com que a ciência costuma lidar: um facto empírico, um facto que descobrimos através do funcionamento normal dos nossos cinco sentidos. Os factos da física, da biologia, da química, da psicologia e da geografia são factos naturais, factos sobre o mundo que nós – ou os cientistas – descobrimos observando as coisas. A ciência e o senso comum estão ancorados em factos naturais. Como os conhecemos? Mais especificamente, como sabemos que há seres humanos neste quarto? Todos sabemos bastante sobre o modo como sabemos isto. Sabemos que há fontes de luz no quarto e que a luz é reflectida pelos seres humanos de uma maneira que os torna visíveis. Sabemos que essa luz atinge as retinas dos nossos olhos, activando processos mentais complexos que contribuem para definir as nossas crenças sobre o nosso ambiente. Tudo isto é hoje simples senso comum, mas é óbvio que o conhecimento que a ciência nos faculta sobre os processos perceptivos naturais através dos quais conhecemos os factos naturais é extremamente rico e vasto.
Então e os factos morais? Como é que os conhecemos? Alguns filósofos respondem que os conhecemos precisamente pelos mesmos meios empíricos. Estes filósofos – conhecidos por realistas morais naturalistas – pensam que os factos morais são apenas uma espécie de factos naturais. Este realismo moral naturalista conheceu um certo reflorescimento nos anos 80 e é hoje bastante popular, mas quando Mackie escreveu o seu livro em 1977 esta perspectiva era amplamente considerada muito pouco plausível. Pensava-se que duas pessoas podiam estar completamente de acordo quanto a todos os factos naturais empíricos e ainda assim estarem em desacordo ético. Deste modo, os factos morais – se existissem – teriam de ser factos de um género especial não-natural. Aqueles que pensam que tais factos éticos não-naturais existem – conhecidos por não-naturalistas éticos – são assim o alvo principal de Mackie.
Se existem mesmo factos éticos não-naturais, como é suposto conhecermo-los? Certamente não pelos meios empíricos comuns, pelo uso dos nossos sentidos, pois todos os factos que conhecemos assim são factos naturais. Os não-naturalistas éticos apelam aqui a um «sentido moral» ou à «intuição moral», uma faculdade especial para apreender verdades morais. Mas de que dados dispomos a favor da existência de uma tal faculdade e o que sabemos sobre ela? Aqui, sugere Mackie, as respostas só podem embaraçar o não-naturalista. Afinal, termos crenças morais parece ser o único indício da existência dessa faculdade. Postulamos depois essa faculdade para justificarmos perante nós próprios a convicção de que tais crenças reflectem verdades morais, mas não temos qualquer outra razão para acreditar na existência de uma faculdade moral. E, obviamente, não sabemos nada sobre esta faculdade e o modo como funciona. É possível escrever livros enormes sobre a anatomia e a fisiologia do olho humano, bem como sobre o funcionamento da visão. Mas tudo o que o não-naturalista pode fazer é invocar injustificadamente uma faculdade especial sobre a qual não nos pode dizer nada. Mackie não fica impressionado.
James Lenman
Retirado de www.spfil.pt/trolei/

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