O que distingue o capitalismo é a ideia da aquisição pela aquisição enquanto modo de vida eticamente sancionado. Antes da era moderna, o dinheiro e as pessoas eram valorizados enquanto apenas relativamente àquilo que se podia fazer com eles. A um nível mínimo, o dinheiro e as posses significavam que se podia ter acesso a comida, abrigo e roupa; a um nível de maior abundância, o dinheiro e as posses significavam uma vasta propriedade, serviçais, diversão sofisticada, viagens, porventura também a capacidade de atrair amantes ou granjear poder político. Na era capitalista, o dinheiro é valorizado em si, e não apenas por aquilo que pode comprar. Nos níveis mais elevados de rendimento, a ordem natural das coisas inverte-se: em vez de o dinheiro ser valorizado pelas coisas que compra, as coisas tornam-se valiosas pela quantidade de dinheiro que custam. Os Lírios de Van Gogh teriam tido muito menos interesse para o abastado australiano Alan Bond se ele tivesse podido adquiri-los por meio milhão de dólares. O facto de ele ter pago quase cem vezes esse valor transformou o quadro Lírios na pintura mais cara do mundo, e possuir a pintura mais cara do mundo era o que Bond, que pouco sabe de arte, quis quando se encontrava no apogeu do êxito. Para o homem capitalista, o único objectivo do trabalho de uma vida é, nas palavras de Weber, “afundar-se na campa sob o peso de uma grande carga material de dinheiro e bens”. Não adquirimos bens para vivermos; em vez disso, vivemos para adquirir bens.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 112-113
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 112-113
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