quarta-feira, 4 de junho de 2008

A ANÁLISE DE CAUSA DE ARISTÓTELES

Até cerca de 1600, a principal tradição em física era aristotélica e a análise de causa de Aristóteles era também dominante. No entanto, esta última continuou a usar-se muito depois da primeira ter sido rejeitada e, por conseguinte, merece um exame separado no início. De acordo com Aristóteles, toda a mudança, incluindo a vinda à existência, tinha quatro causas: material, eficiente, formal e final. Estas quatro esgotavam os tipos de respostas que se podiam dar a uma solicitação sobre a explicação da mudança. No caso de uma estátua, por exemplo, a causa material da sua existência é o mármore; a causa eficiente é a força exercida sobre o mármore pelos instrumentos do escultor; a causa formal é a forma idealizada do objecto acabado, presente desde o início na mente do escultor; e a causa final é o aumento do número de objectos belos acessíveis aos membros da sociedade grega.
Em princípio, qualquer mudança possuía quatro causas, uma de cada tipo, mas, na prática, a espécie de causa invocada para explicação efectiva variava grandemente de campo para campo. Ao considerarem a ciência física, os aristotélicos em geral só faziam uso de duas causas, formal e final, e estas habitualmente fundiam-se numa. As mudanças violentas, que interrompiam a ordem natural do cosmos, atribuíam-se decerto a causas eficientes, a impulsos e puxões, mas as mudanças desta espécie consideravam-se como incapazes de mais explicações e, assim, ficavam fora da física. Esta lidava apenas com a restauração e a manutenção da ordem natural, que dependia só das causas formais. Assim, as pedras caíam para o centro do universo porque a sua natureza ou forma só se poderia inteiramente realizar nessa posição; o fogo subia para a periferia pela mesma razão; e a matéria celeste realizava a sua natureza rodando regular e eternamente no lugar apropriado.
KUHN, Thomas, A Tensão Essencial, 1989. Lisboa: Edições 70, pp. 54-55

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