Karl Marx teria respondido à pergunta de Gláucon dizendo que ela não poderia ter uma resposta satisfatória, a menos que alterássemos a natureza da sociedade. Enquanto vivermos numa sociedade em que a produção económica se destina a satisfazer os interesses de uma classe particular, haverá necessariamente conflito entre o interesse próprio individual e os interesses da sociedade como um todo. Nessa situação, o pastor agiria bastante racionalmente ao utilizar o anel mágico para se apoderar do que lhe aprouvesse e matar quem desejasse. Todavia, uma vez organizados os meios de produção a bem do interesse comum, Marx diria que a natureza humana, que não é fixa, mas condicionada socialmente, se alteraria com eles. Os cidadãos da nova sociedade, baseada na propriedade comum, encontrariam a sua própria felicidade no trabalho para o benefício de todos.
Para muitos críticos de Marx, era claro desde o início que isto não passava de um sonho. Mas, com o colapso das sociedades comunistas na Europa de Leste e da antiga União Soviética, a natureza utópica do pensamento marxista tornou-se evidente para todos. Pela primeira vez, vivemos num mundo que possui um modelo social dominante para as sociedades desenvolvidas. A esperança de resolução do conflito entre interesse próprio individual e o bem de todos através da construção de uma alternativa à economia de mercado livre é agora um fracasso assumido. Parece que a visão individualista do interesse próprio é a única ainda viável.
Para muitos críticos de Marx, era claro desde o início que isto não passava de um sonho. Mas, com o colapso das sociedades comunistas na Europa de Leste e da antiga União Soviética, a natureza utópica do pensamento marxista tornou-se evidente para todos. Pela primeira vez, vivemos num mundo que possui um modelo social dominante para as sociedades desenvolvidas. A esperança de resolução do conflito entre interesse próprio individual e o bem de todos através da construção de uma alternativa à economia de mercado livre é agora um fracasso assumido. Parece que a visão individualista do interesse próprio é a única ainda viável.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 38-39