As origens dos modos ocidentais de pensar encontram-se em dois locais: na antiga Grécia e na tradição judaico-cristã. Se considerarmos a Grécia em primeiro lugar, encontramos um vigoroso debate filosófico acerca da verdadeira natureza da vida boa; mas nenhum dos principais filósofos que participam neste debate vê o êxito em termos de aquisição de dinheiro ou bens materiais. Quando Platão, em A República, esboçou uma comunidade ideal, fê-la com três classes, das quais a inferior – os agricultores e artífices – trabalharia para obter lucro e acumular propriedades. Os governantes ou guardiães nem sempre possuiriam as suas próprias habitações, e teriam de viver em comum. Isentos do efeito corruptor do dinheiro, ficariam mais aptos a governar sábia e justamente.
Nos termos da ideia de Platão de posse comum, objectava Aristóteles, as pessoas não partilhariam equitativamente o trabalho que seria necessário fazer. Aqueles que trabalhavam arduamente veriam com maus olhos as outras que “trabalham pouco e recebem ou consomem muito”. Reconhecia igualmente os prazeres da posse e considerava-os legítimos, pois “o amor de si é um sentimento implantado pela natureza e não doado em vão, embora o egoísmo seja correctamente censurado; este, contudo, não se trata de mero amor de si, mas do amor de si em excesso, como o amor do avaro pelo dinheiro”.
Fazer dinheiro pode ser um meio para alcançar o fim de fornecer ao agregado aquilo de que este necessita, mas, porque é apenas um meio, está limitado pela natureza do próprio fim.
Algumas pessoas, diz Aristóteles, confundiram o meio com o fim. Acreditam que dinheiro é riqueza. Para provar que isto não pode ser correcto, Aristóteles aponta como exemplo a história do Rei Midas, que, gananciosamente, desejou que tudo aquilo em que tocasse se transformasse em ouro e morreu de fome quando a comida se transformou em ouro na sua boca. Como pode algo ser riqueza, pergunta retoricamente Aristóteles, se se pode possuí-lo em superabundância e, no entanto, morrer de fome?
Para Aristóteles, adquirir bens para satisfazer as necessidades é natural e, por conseguinte, “a arte de fazer dinheiro a partir de frutos e animais é sempre natural”; mas adquirir o dinheiro pelo dinheiro não é natural e é errado. A transacção como comércio ou meio de fazer dinheiro, segundo Aristóteles, não é natural, sendo “justamente censurado”, pois trata-se de “um modo através do qual os homens ganham uns com os outros”. Quando cultivamos os campos ou criamos animais, obtemos o nosso ganho a partir da natureza, aumentando a quantidade de bens disponíveis para os seres humanos; por outro lado, quando compramos um produto e tornamos a vendê-lo por mais dinheiro do que aquele que demos por ele, não aumentámos o valor do produto. Obtemos o nosso lucro à custa dos outros, dispostos a comprar os nossos bens por um valor superior ao da aquisição original.
Aristóteles acrescentou que o tipo de comércio mais odioso é ganhar dinheiro a emprestar dinheiro, pois isto “permite um ganho a partir do próprio dinheiro, e não do uso natural deste. O dinheiro destina-se a ser usado em troca, e não a reproduzir-se devido ao juro. Daí que, de todos os modos de fazer dinheiro, este seja o menos natural”.
Esta ideia passou a ser conhecida como a doutrina aristotélica da esterilidade do dinheiro. Que os animais e as plantas se reproduzam, é natural. Mas o dinheiro é estéril, e fazer dinheiro a partir da sua reprodução não é natural.
Nos termos da ideia de Platão de posse comum, objectava Aristóteles, as pessoas não partilhariam equitativamente o trabalho que seria necessário fazer. Aqueles que trabalhavam arduamente veriam com maus olhos as outras que “trabalham pouco e recebem ou consomem muito”. Reconhecia igualmente os prazeres da posse e considerava-os legítimos, pois “o amor de si é um sentimento implantado pela natureza e não doado em vão, embora o egoísmo seja correctamente censurado; este, contudo, não se trata de mero amor de si, mas do amor de si em excesso, como o amor do avaro pelo dinheiro”.
Fazer dinheiro pode ser um meio para alcançar o fim de fornecer ao agregado aquilo de que este necessita, mas, porque é apenas um meio, está limitado pela natureza do próprio fim.
Algumas pessoas, diz Aristóteles, confundiram o meio com o fim. Acreditam que dinheiro é riqueza. Para provar que isto não pode ser correcto, Aristóteles aponta como exemplo a história do Rei Midas, que, gananciosamente, desejou que tudo aquilo em que tocasse se transformasse em ouro e morreu de fome quando a comida se transformou em ouro na sua boca. Como pode algo ser riqueza, pergunta retoricamente Aristóteles, se se pode possuí-lo em superabundância e, no entanto, morrer de fome?
Para Aristóteles, adquirir bens para satisfazer as necessidades é natural e, por conseguinte, “a arte de fazer dinheiro a partir de frutos e animais é sempre natural”; mas adquirir o dinheiro pelo dinheiro não é natural e é errado. A transacção como comércio ou meio de fazer dinheiro, segundo Aristóteles, não é natural, sendo “justamente censurado”, pois trata-se de “um modo através do qual os homens ganham uns com os outros”. Quando cultivamos os campos ou criamos animais, obtemos o nosso ganho a partir da natureza, aumentando a quantidade de bens disponíveis para os seres humanos; por outro lado, quando compramos um produto e tornamos a vendê-lo por mais dinheiro do que aquele que demos por ele, não aumentámos o valor do produto. Obtemos o nosso lucro à custa dos outros, dispostos a comprar os nossos bens por um valor superior ao da aquisição original.
Aristóteles acrescentou que o tipo de comércio mais odioso é ganhar dinheiro a emprestar dinheiro, pois isto “permite um ganho a partir do próprio dinheiro, e não do uso natural deste. O dinheiro destina-se a ser usado em troca, e não a reproduzir-se devido ao juro. Daí que, de todos os modos de fazer dinheiro, este seja o menos natural”.
Esta ideia passou a ser conhecida como a doutrina aristotélica da esterilidade do dinheiro. Que os animais e as plantas se reproduzam, é natural. Mas o dinheiro é estéril, e fazer dinheiro a partir da sua reprodução não é natural.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 113-117
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