segunda-feira, 23 de junho de 2008

MERCADO DE DEUS

Tradicionalmente, o Papa reza pela paz todas as Páscoas e o facto de nunca ter tido o efeito de prevenir ou terminar qualquer guerra nunca o demove. O que passará pela cabeça ao Papa, ao ser sempre rejeitado? Será que Deus lhe tem cisma?
Andy Rooney, Sincerely

Quem pode ser leal a um Deus a quem não é possível pedir nada? Não tem de ser maná dos céus. Como o actor cómico Erno Philipps disse uma vez: “Quando era pequeno, costumava rezar a Deus para que me desse uma bicicleta. Mas depois compreendi que Deus não funciona dessa maneira – por isso roubei uma bicicleta e rezei para que me perdoasse!” E, como Stark observa: “Há sempre um fornecimento limitado de recompensas e algumas encontram-se inteiramente indisponíveis – pelo menos não estão disponíveis, aqui e agora, através de meios convencionais”. Um dos principais problemas de marketing para as religiões é, pois, como convencer o cliente a aguardar.
Recuperar de um cancro é algo menor, quando comparado com a vida eterna. Mas talvez o aspecto mais significativo das recompensas do outro mundo seja o facto de a realização destas recompensas ser adiado (frequentemente até depois da morte). Por consequência, em busca de recompensas do outro mundo, os seres humanos aceitarão uma relação de troca de prazo alargado com os Deuses. Ou seja, os seres humanos farão pagamentos periódicos, ao longo de um período substancial de tempo, com frequência até à morte.
Na medida em que uma pessoa se sente motivada pelo valor religioso, deve preferir um fornecedor que pratique preços mais elevados. Os grupos religiosos mais dispendiosos não somente oferecem um produto mais valioso, mas, ao fazê-lo, geram também os níveis individuais de confiança na religião.
DENNETT, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ª edição, 2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores, pp. 161-162

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