Hoje em dia, a afirmação de que a vida não tem significado já não nos chega dos filósofos existencialistas que a tratavam como uma descoberta chocante: chega-nos das bocas de adolescentes aborrecidos, para quem é já um truísmo. Talvez o responsável por isto seja o lugar central ocupado pelo interesse próprio, e a forma como concebemos o nosso próprio interesse. A busca do interesse próprio, tal como é geralmente concebido, corresponde a uma vida sem qualquer significado que não o nosso próprio prazer ou satisfação individual. Mas os antigos já conheciam o “paradoxo do hedonismo”, segundo o qual quanto mais explicitamente nós perseguíssemos o nosso desejo de prazer, mas inapreensível descobriríamos a sua satisfação.
Embora o estudo da ética possa não progredir da forma extraordinária como progride o estudo da física ou da genética, durante o último século conheceu-se muita coisa. O progresso não apenas na área da filosofia, mas também na das ciências, contribuiu para o nosso conhecimento da ética. A “teoria da escolha racional” – ou seja, a teoria sobre o que é escolher racionalmente em situações complexas que envolvem incertezas – chamou a atenção para um problema não discutido pelos pensadores antigos, conhecido como o “Dilema do Prisioneiro”. A discussão moderna deste problema sugere que quando cada uma de duas ou mais pessoas, agindo bastante racionalmente, deliberadamente, e com a melhor informação possível, persegue independentemente os seus interesses, podem ambas acabar pior do que se tivessem agido de forma menos racionalmente centrada nos seus interesses.
Uma vida ética é aquela em que nos identificamos com outros objectivos, mais amplos, conferindo assim sentido às nossas vidas. A perspectiva de que a vida ética e a vida do interesse próprio esclarecido são uma e a mesma é antiga, mas é agora frequentemente desdenhada por quem é demasiado cínico para acreditar em tal harmonia. A opinião antiga era a de que uma vida eticamente boa é também uma vida boa para a pessoa que a vive. Jamais foi tão urgente que as razões para aceitar esta visão mais antiga sejam amplamente compreendidas. Para isso, temos de pôr em causa a visão do interesse próprio que domina a sociedade ocidental há muito tempo.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 49-51
Embora o estudo da ética possa não progredir da forma extraordinária como progride o estudo da física ou da genética, durante o último século conheceu-se muita coisa. O progresso não apenas na área da filosofia, mas também na das ciências, contribuiu para o nosso conhecimento da ética. A “teoria da escolha racional” – ou seja, a teoria sobre o que é escolher racionalmente em situações complexas que envolvem incertezas – chamou a atenção para um problema não discutido pelos pensadores antigos, conhecido como o “Dilema do Prisioneiro”. A discussão moderna deste problema sugere que quando cada uma de duas ou mais pessoas, agindo bastante racionalmente, deliberadamente, e com a melhor informação possível, persegue independentemente os seus interesses, podem ambas acabar pior do que se tivessem agido de forma menos racionalmente centrada nos seus interesses.
Uma vida ética é aquela em que nos identificamos com outros objectivos, mais amplos, conferindo assim sentido às nossas vidas. A perspectiva de que a vida ética e a vida do interesse próprio esclarecido são uma e a mesma é antiga, mas é agora frequentemente desdenhada por quem é demasiado cínico para acreditar em tal harmonia. A opinião antiga era a de que uma vida eticamente boa é também uma vida boa para a pessoa que a vive. Jamais foi tão urgente que as razões para aceitar esta visão mais antiga sejam amplamente compreendidas. Para isso, temos de pôr em causa a visão do interesse próprio que domina a sociedade ocidental há muito tempo.
SINGER, Peter, Como Havemos de Viver – a ética numa época de individualismo, 1ª edição, 2006. Lisboa: Dinalivro, pp. 49-51
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