Pensemos na variedade de produtos que gostamos de ingerir nos nossos corpos: açúcar, gorduras, álcool, cafeína, chocolate, nicotina, marijuana e ópio, só para começar. Em cada um dos casos, existe um sistema receptor evoluído no nosso corpo cuja função consiste em detectar substâncias (quer ingeridas quer construídas dentro do corpo, como as endorfinas ou análogos de morfina criados endogenamente) que estes produtos favoritos possuem em alta concentração. Ao longo dos tempos, a nossa espécie tem explorado vários filões, experimentando praticamente tudo o que existe à sua volta, e, após milénios de testes, conseguiu descobrir formas de recolher e concentrar estas substâncias especiais para podermos usá-las para estimular os nossos sistemas inatos. Talvez os marcianos se perguntem se existem também sistemas geneticamente evoluídos nos nossos corpos cuja função seria reagir a algo que as religiões fornecem sob uma forma intensificada. Muitas pessoas já o pensaram. Talvez Karl Marx tivesse mais razão do que julgava, quando chamou à religião o ópio do povo. Será possível que tenhamos um centro de deus no nosso cérebro juntamente com a apetência para o açúcar? Para que seria? O que o custearia? Nas palavras de Richard Dawkins: “Se os neurocientistas encontrarem um “centro de deus” no cérebro, os cientistas darwinianos como eu querem saber por que o centro de deus evoluiu. Por que é que os nossos antepassados com uma tendência genética para desenvolver um centro de deus sobreviveram melhor do que os seus rivais que não o possuíra?”
Se uma tal explicação evolucionária está correcta, então os nossos antepassados com um centro de deus não só sobreviveram melhor do que os que não o possuíam; também tinham tendência a reproduzir-se mais.
É possível que não exista nem tenha jamais existido no mundo um alvo real a alcançar, mas apenas, efectivamente, um alvo imaginário ou virtual: foi a busca, não a obtenção, que proporcionou uma vantagem evolutiva.
DENNET, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ª edição, 2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores, p.77
Se uma tal explicação evolucionária está correcta, então os nossos antepassados com um centro de deus não só sobreviveram melhor do que os que não o possuíam; também tinham tendência a reproduzir-se mais.
É possível que não exista nem tenha jamais existido no mundo um alvo real a alcançar, mas apenas, efectivamente, um alvo imaginário ou virtual: foi a busca, não a obtenção, que proporcionou uma vantagem evolutiva.
DENNET, Daniel, Quebrar o Feitiço – a religião como fenómeno natural, 1ª edição, 2008. Lisboa: Esfera do Caos Editores, p.77
2 comentários:
Quero felicitar o autor do blog pelo óptimo trabalho que tem desenvolvido neste espaço, acho que os temas são muito interessantes e maior parte dos textos bastante acessiveis, outro ponto positivo a realçar é a regularidade da publicação. Desejo-lhe felicidades e espero que continue com o bom trabalho que tem sido feito até agora.
Cumprimentos,
Luís Afonso
Obrigado Luís Afonso pelas suas simpáticas e encorajadoras palavras.
Como já disse noutras ocasiões, este blog era para iniciar a sua actividade apenas para o próximo ano lectivo, até porque neste ano não estou a leccionar filosofia. Mas como tenho lido alguma coisa ultimamente e tenho encontrado textos que poderão se utilizados nas aulas, resolvi iniciá-lo de imediato. Quero que este blog seja um auxílio preciso para os alunos da minha escola e para outros colegas de outras escolas(e consequentemente alunos)que poderão utilizar alguns textos que considerem importantes, até para complementar os manuais adoptados, já que alguns deles não primam pela máxima qualidade.
Espero que continue a ser um frequentador do nosso blog e que deixe comentários e/ou sugestões sempre que quiser.
Cumprimentos
António Paulo
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