terça-feira, 9 de setembro de 2008

A LIBERDADE

Tal Ética (existencialista), como é evidente, assenta, antes de mais, num pressuposto de “liberdade”. Mas que significa a liberdade para Sartre?
Na possibilidade de dizer “não”. E é o homem aquele ser pelo qual o “não” veio ao mundo. Negar é com efeito, por um lado, possibilitar um “recuo” em face de um objecto, “deslocarmo-nos” dele, cercá-lo da negação que o determine, e paralelamente afirmarmo-nos como subjectividade, como autoconsciência, como indivíduos; e por outro lado é transcender o mesmo objecto, projectarmo-nos para além dele, visá-lo em significação e integrá-lo num complexo de significações. Assim, negando e porque negamos, recusamos a nós próprios a condição de “coisa”, afirmamos em nós a condição de um pour-soi contra um en-soi. Estou condenado a existir para sempre para além da minha “essência”. Daí a célebre afirmação de Sartre de que “estou condenado a ser livre”. A liberdade portanto não é uma qualidade que se acrescente às qualidades que já possuía como homem: a liberdade é o que precisamente me estrutura como homem, porque é uma designação específica da própria qualidade de ser consciente, de poder negar, de transcender. A liberdade é o que define estritamente a minha possibilidade de me recusar como en-soi (coisa), projectando-me para além disso ou, se se quiser, para além de mim.
Vergílio Ferreira
SARTRE, Jean-Paul; FERREIRA, Vergílio, O Existencialismo é um Humanismo, 2004. Lisboa: Bertrand Editora, pp. 111-112

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