quinta-feira, 28 de abril de 2011

A ÉTICA DA CRENÇA

Um armador estava prestes a enviar para o mar o seu navio com emigrantes. Ele sabia que o navio era velho e que não tinha uma boa construção; que já tinha visto muitos mares e climas, e que precisava de reparações constantes. Foi-lhe sugerido que o navio não tinha condições de navegabilidade. Estas dúvidas assombravam-lhe o espírito e faziam-no infeliz; pensava que talvez devesse mandar inspeccionar e reparar o navio, apesar de isto lhe sair muito caro. Antes de o navio zarpar, todavia, conseguiu ultrapassar estas reflexões melancólicas. Disse de si para si que o navio tinha feito já tantas viagens em segurança e tinha aguentado tantas tempestades que era uma perda de tempo supor que não regressaria em segurança de mais esta viagem. Confiaria na Providência, que dificilmente deixaria de proteger todos aquelas infelizes famílias que abandonavam a sua terra natal para procurar um melhor futuro noutro lado. Afastaria do seu espírito todas as suspeitas mesquinhas sobre a honestidade dos estaleiros. E deste modo adquiriu uma convicção sincera e confortável de que o seu navio era inteiramente seguro e tinha condições de navegabilidade; assistiu à sua partida de coração ligeiro e com votos benevolentes pelo sucesso dos exilados no que seria o seu novo lar; e recebeu o dinheiro do seguro quando o navio se afundou no meio do oceano sem deixar sobreviventes.
Que dizer dele? Isto, sem dúvida: que era muitíssimo culpado da morte daqueles homens. Aceita-se que acreditava sinceramente na solidez do seu navio; mas a sinceridade da sua convicção não pode de modo algum ajudá-lo, porque não tinha o direito de acreditar com base nas provas que tinha à sua disposição. Não adquiriu honestamente a sua crença por meio da investigação paciente, mas antes por meio do silenciamento das suas dúvidas. E, apesar de ter talvez acabado por se sentir tão seguro que era incapaz de pensar de outro modo, na medida em que se colocou a si mesmo nesse estado de espírito deliberada e voluntariamente sem ser responsabilizado pela sua crença.
Alteremos o caso ligeiramente, e suponhamos que o navio não tinha afinal problemas; que fez a viagem em segurança, e muitas outras depois dessa. Diminui isso a culpa do seu dono? Nem um pouco. Depois de realizada, uma acção é correcta ou incorrecta para sempre; nenhuma falha acidental dos seus frutos, bons ou maus, pode alterar isso. A questão do correcto e do incorrecto tem a ver com a origem da sua crença, e não com a sua matéria; não tem a ver com o que ela era, mas com o modo como ele a adquiriu; não tem a ver com a questão de saber se a crença se revelou verdadeira ou falsa, mas com a questão de saber se ele tinha o direito de acreditar com base nas provas que tinha à sua disposição.
Em suma: é sempre incorrecto, em qualquer parte e para qualquer pessoa, acreditar seja no que for sem provas suficientes.
W. K. Clifford, “A Ética da Crença”, in Textos e Problemas de Filosofia, organização de Aires Almeida e Desidério Murcho, 2006. Lisboa: Plátano Editora.

Haverá alguma semelhança relevante entre o armador e o crente religioso? Porquê? (Deixa a tua resposta na caixa dos comentários.)

19 comentários:

Ricrado Silva 10ºC disse...

Na minha opinião não podemos comparar a atitude do ermeiro com a de um crente. Como James diz, a crença religiosa é um caso especial pois que acredita em Deus, ou seja, quem tem fé, acredita com tanta convicção que quase se trata de um conhecimento.

Carla Duarte disse...

segundo cliford podemos comparar um crente religioso com o armador pois o armador criou a crença e acreditava piamente que ela era verdadeira. formulou esta crença sem provas sem conhecimentos para garantir que era verdadeira tal como um crente religioso que tem a crença que Deus existe sem ter provas concretas para o afirmar.

Luís Ramos disse...

Eu acho que não há nenhuma semelhança entre o armador e o crente, porque quem tem fé, quem acredita em milagres, ou seja quem acredita em Deus acredita com "muita força", tipo quem acredita em Deus vai defender que Deus é importante e defende-lo até ao fim mesmo que se chateie com uma pessoa que tem uma opinião contrária.

Tiago Tojal disse...

Sim, assim como o armador do navio acreditava que o navio era seguro e conseguia fazer mais uma viagem sem quaisquer provas, um crente religioso também acredita em Deus sem quaisquer provas.

Anónimo disse...

A acção do armador não pode ser comparada á acção do crente pois o crente ao acreditar em Deus não põem em causa a vida de outras pessoas como o armador fez, apesar de ambos terem a mesma atitude pois ambos estão a acreditar numa coisa que não têm provas.
Carolina Almeida nº2 10ºc

Anónimo disse...

Na minha opinião, ambas as situações são semelhantes, pois tanto o armador como o crente, têm fé, apesar de serem em coisas diferentes acho que acabam por ser muito parecidas. Porque, por exemplo, o crente pode acreditar em milagres, e o armador, também pode acreditar num "milagre" (de outro tipo) que faça o navio aguentar mais uma viagem.

Sara Fernandes n.º20 10.ºC

Nuno nº14 10ºC disse...

Não, porque há certos motivos que fazem a crença em Deus um caso especial: é impossível não ter uma posição relativamente à existência de Deus; se acreditarmos na existência de Deus e isso for verdade, ganharemos um bem vital, como a bênção divina e a possibilidade de uma vida eterna, enquanto se não acreditarmos na Sua existência, e Deus existir, perderemos esse bem vital para sempre; a crença na existência de Deus é algo que pode mudar o modo como vivemos. Estas razões tornam a crença em Deus um caso especial em relação à crença do armador do que o barco não se afundaria e chegaria em segurança ao seu destino. Afinal, o armador tinha provas de que ele se provavemnte se afundaria: o barco era velho, não tinha uma boa construção e precisava de reparações constantes. Sendo assim, o armador criou uma crença que sabia que na maioria das possibilidades não se concretizaria, só com muita sorte o navio chegaria ao seu destino.

Tatiana disse...

Na minha opinião a atitude do armador pode ser comparada a atitude de um crente religioso, uma vez que ambos acreditam em algo, mesmo havendo provas em contrário.
Tal como o armador acredita que apesar do navio precisar de ser inspeccionado,(visto já ter feito muitas viagens, ser velho e não ter uma boa construção) conseguirá chegar ao fim de mais uma viagem em bom estado sem ser submetido a essa inspecção,ou seja tal como o armador apesar de ter provas do mau estado em que o navio se encontra, acredita que ele chegará ao fim de mais esta viagem, também o crente religioso continua a acreditar em Deus apesar de existirem pessoas que insistem em dizer que há provas de que Deus não existe. A única diferença é que apesar de acreditar que o seu navio é seguro,o armador tem provas visíveis de que não o é, enquanto que um crente religioso não tem provas da existência ou não de Deus, acredita somente, sem precisar de quaisquer provas.

Apesar de todo também podemos achar que estes dois casos não têm qualquer semelhança visto que devemos acreditar sempre na existência de Deus, pois quer ele exista ou não se após a nossa vida ele existir seremos recompensados eternamente ao ponto de que se não acreditarmos na sua existência e depois ele existir seremos castigados eternamente e perderemos o direito a vida eterna. Assim temos mais benefícios em acreditar do que em não acreditar na sua existência, afinal de contas a crença na existência de Deus é algo que pode mudar o modo como vivemos.
Estas razões tornam a crença em Deus um caso especial em relação à crença do armador de que o barco não se afundaria e chegaria em segurança ao seu destino, apesar de ter conhecimento de que isto provavelmente não se sucederia tendo em conta as condições em que o navio se encontrava.
Sendo assim, o armador criou uma crença que sabia que na maioria das possibilidades não se concretizaria, visto que só com muita sorte o navio chegaria ao seu destino em segurança.

Tatiana Raquel Pereira Nº22...10ºC

anacruz disse...

Na minha opinião a atitude do armador pode ser comparada a atitude de um crente religioso, uma vez que ambos acreditam em algo, mesmo havendo provas em contrário, eles tem uma crença e acreditam nela apesar de não ser igual uma a outra, mas é o que acreditam e tem fé, portanto as duas estão boas para cada um, e tem motivos para aceitar.

Anónimo disse...

Mesmo sabendo que o seu navio precisava de urgentes remodelações, o armador acreditava que o navio aguentava mais uma viagem, visto que já tinha percorrido muitas marés. O armador, no primeiro caso, de certa forma é culpado, pois sabia que o seu navio precisava de remodelações, mas mesmo assim, deixou que aqueles inocentes passageiros viajassem nele. O armador criou a crença de que o navio se aguentava mesmo sem ter provas disso. No segundo caso, onde se supos que o navio aguentara a viagem, o armador também tem culpa, pois pos a segurança dos passageiros em causa.

Um crente religioso, no lugar do armador pensaria: "eu sei que este barco precisa de remodelações, mas custara muito dinheiro, mas para alem disso eu acredito em Deus, e sei que Ele não deixará estas pessoas morrer".
E se o crente religioso, ao pensar desta forma, deixasse o navio partir, era de tal maneira culpado, pois, se o navio se afundasse , a crença do crente religioso não seria verdadeira, e mesmo que o navio aguentasse a viagem, o crente tambem seria culpado, tal como o armador, pois pos a segurança das pessoas em perigo.

Na minha opinião e do filosofo Cliford, ambos são culpados, visto que é sempre incorrecto acreditar numa coisa sem termos provas que essa coisa é verdadeira. O armador não tinha provas suficientes se o navio se aguentava ou não e o crente religioso também não tem provas suficientes se Deus existe ou não e dessa maneira, não tem provas se Deus protegeria aquelas pessoas ou não.

Maria Corujo nº24 10ºC

Bruno Francisco Lima Nº4 10ºC disse...

Na minha opinião, ambas as situações são semelhantes, pois tanto o armador como o crente, têm fé. Porque, por exemplo, o crente pode acreditar em milagres, e o armador, também pode acreditar num "milagre" que faça o navio aguentar mais uma viagem. no entanto como James diz, a crença religiosa é um caso especial pois que acredita em Deus, ou seja, quem tem fé, acredita com tanta convicção que quase se trata de um conhecimento.

Paula Lopes Nº15 10ºC disse...

No meu ponto de vista acho que há uma pequena semelhança entre crença e armador pois ambas acreditam em algo sem provas para isso.
Um crente se acreditar em Deus e ele existir ganhamos o direito a vida eterna, caso contrário, acreditarmos na inexistencia de Deus, e ele existir perderemos muito (vida eterna). Tronando a crença em Deus uma caso único pois temos sempre algo a ganhar e saberemos que pode ser verdade.
Enqunto que o armador criou uma crença que sabia que na maioria das possibilidades não se concretizaria, só com sorte o navio chegaria ao seu destino.

Miguel Tomás Nº7 10ºC disse...

De certa forma pode ter a ver... O Armador acreditava que o seu barco conseguia realizar a viagem em segurança e regressar, um crente acredita que se tiver uma vida afastada do pecado depois da morte irá para o céu... Em ambos os casos os intervenientes acreditam em algo sem razões suficientes para tal, e como diz Clifford:

''é sempre incorrecto, em qualquer parte e para qualquer pessoa, acreditar seja no que for sem provas suficientes''

Sara Oliveira, nº21, 10ºC disse...

Na minha opinião, a armador e o crente têm algo em comum, pois eles acreditam em algo sabendo que hà provas em contrário.
Tal como o armador acredita que o navio consegue fazer a sua viagem sem acontecer um desantre, tendo fé, tambem o crente acredita em Deus, havendo algumas provas contra.

Unknown disse...

Eu penso que não podemos comparar a atitude de um crente com a do armador. É certo que tanto um como o outro acreditam em algo. Mas é diferente. Não é igual ter fé ou não. Alguem que tem fé numa coisa, que tem uma crença religiosa, acredita em Deus, e acredita tanto que essa crença , passa de uma crença a um conhecimento.
Márcia nº13 10ºc

carina coelho disse...

Na minha opinião não há nenhuma semelhança entre o armador e o crente. Isto porque, o armador sabia que as probabilidades de o navio não chegar ao destino eram muitas, e mesmo assim quis acreditar que não iria acontecer nada, mesmo sem provas para isso. Ora, em contrate, um crente acredita que Deus existe. Mas esta definição de crente pode ter vários significados para cada pessoa, uma vez que muitos podem entender que um crente acredita na existencia de Deus sem provas. No meu ponto de vista, um crente acredita na existencia de Deus, pois existem provas que levem a acreditar: nós existimos, nós temos uma vida, nós somos pessoas porque Deus existe; tudo não seria como é sem a existencia de Deus.

Assim, penso que não ha nenhuma semelhança entre um e outro, uma vez que um crente acredita na existencia de Deus, pois há factos suficientes para acreditar.

José A. Teixeira nº11 10ºC disse...

Eu penso que entre o armador e o crente. Porque, as probabilidades do navio não eram muitas, sabia i armador. Mas um crente acredita que Deus existe. A única diferença é que apesar de acreditar que o seu navio é seguro,o armador acredita que não é, enquanto que um crente religioso não tem provas da existência ou não de Deus, apenas acredita sem precisar de provas.

Roxanne, 10ºC, nº19 disse...

Sim, eu acho que ha semelhança. Pois, ele sabia que o barco necessitava de reparaçoes, mas mesmo assim deixou ir o barco para o mar com os homens baseando-se apenas na sua crença que era a Providencia (Providência Divina é o meio pelo qual Deus governa todas as coisas no universo.)Ele achava que mesmo com o barco "podre" ele aguentaria, pois Deus faria com que isso acontecesse (milagre).

Carolina Silva nº8 10ºC disse...

Para mim,as duas situações são praticamente iguais, pois tanto um como o outro, têm fé.