Mas como falar-se de verdade a propósito da Arte, se justamente ela é ficção, ela é “mentira”? No entanto como é irrecusável um problema de eficácia da mesma Arte, como, apesar de sabermos que ela “finge”, todos os domínios da eficácia, do dirigismo, a não podem ignorar, para o problema Arte-Verdade as soluções vão desde o admitir-se que essa verdade é “confusa” ou que, como em Hegel, a arte é uma insuficiente manifestação da Ideia, ou ainda e simplesmente, que não há aí problema algum de “verdade”, de “conhecimento” como em Kant.
Ora quanto a uma questão de verdade “objectiva” a solução é fácil num confronto do que a Arte diz com a “realidade”: uma Guerra e Paz mente ou fala verdade, se o facto histórico se respeita no romance. Mas nesse caso, não estamos falando de Arte, estamos falando de História. Ora é sobre a Arte, enquanto tal, que nos estamos interrogando. Eis pois que o problema Arte-Verdade transcende essa dimensão particularista e põe em causa, para o espectador, os limites gerais da sua adesão ou não adesão à obra de arte, põe-lhe em causa a revelação da evidência no acto da existência estética; como implica – e daí mesmo – o sabermos em que medida o mundo “real” não envolve, no conceito que dessa “realidade” temos, uma visão estética, uma revelação através de uma valorização emotiva que nos faz decifrar a verdade em função dessa valorização, que nos ensinou, nos ensina constantemente que nos promove, em suma, na expressão de Malraux, uma operação de “cataratas”.
Vergílio Ferreira
Ora quanto a uma questão de verdade “objectiva” a solução é fácil num confronto do que a Arte diz com a “realidade”: uma Guerra e Paz mente ou fala verdade, se o facto histórico se respeita no romance. Mas nesse caso, não estamos falando de Arte, estamos falando de História. Ora é sobre a Arte, enquanto tal, que nos estamos interrogando. Eis pois que o problema Arte-Verdade transcende essa dimensão particularista e põe em causa, para o espectador, os limites gerais da sua adesão ou não adesão à obra de arte, põe-lhe em causa a revelação da evidência no acto da existência estética; como implica – e daí mesmo – o sabermos em que medida o mundo “real” não envolve, no conceito que dessa “realidade” temos, uma visão estética, uma revelação através de uma valorização emotiva que nos faz decifrar a verdade em função dessa valorização, que nos ensinou, nos ensina constantemente que nos promove, em suma, na expressão de Malraux, uma operação de “cataratas”.
Vergílio Ferreira
SARTRE, Jean-Paul; FERREIRA, Vergílio, O Existencialismo é um Humanismo, 2004. Lisboa: Bertrand Editora, pp. 33-35
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