quarta-feira, 9 de julho de 2008

A CONSCIÊNCIA

Descartes considerava a consciência como “alguma coisa”; Sartre considerando-a apenas uma operação de nós, um facho iluminador, uma constante fuga a si, virá a radicar nisso o que ele concebe como a fatalidade da nossa liberdade. Tal liberdade, aliás, começa precisamente em que, tendo nós consciência de algo, temos uma paralela e implícita consciência de nós, ou seja, temos consciência de que não somos esse algo: se eu tenho consciência deste papel em que escrevo, é porque tenho consciência de que o vejo, e, embora implicitamente, de que o não sou, ou seja, de que sou consciente de mim. Adiantemos desde já que é isso precisamente que me separa do animal. Porque o animal vive colado às coisas que determina nos estritos limites de uma acção-reacção, não se sabe a si próprio enquanto as vê, não as cinge de negação, não as determina verdadeiramente, não as visa com “intencionalidade”, ou seja com uma intenção, um fim especial e consciente, não é, em suma, “livre”.
Vergílio Ferreira

SARTRE, Jean-Paul; FERREIRA, Vergílio, O Existencialismo é um Humanismo, 2004. Lisboa: Bertrand Editora, p. 18

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