O Papa Júlio II e Miguel Ângelo eram dois homens indomáveis. Ambos voluntariosos, obstinados, criativos, as suas mentes fervilhavam de grandiosas ideias.
Após a concepção falhada da construção do mausoléu de Júlio II, na Basílica de S. Pedro, Miguel Ângelo retira-se de Roma, magoado com o recuo do Papa.
Em 1506 dá-se a reconciliação destes homens obstinados pela Arte. Júlio II incumbe Miguel Ângelo, que nada sabia da técnica do fresco, pintar a abóbada da Capela Sistina. O artista tenta escapar, dizendo que a arte de pintar não é a sua vocação.
O Papa voluntarioso impôs que Miguel Ângelo desse início ao seu pedido. O trabalho ímpar começou no dia dez de Maio de 1508. Miguel Ângelo partiu do nada. Recusou o andaime erguido por Bramante e ergueu o seu. Recusou a ajuda de pintores que tinham experiência de frescos e fechado na Capela com alguns trabalhadores, pintou não só a abóbada, mas também as paredes e até frescos antigos.
Cerca de trezentas figuras dão uma visão harmoniosa do conjunto do fresco que se estende por mil metros quadrados. A realização da obra ocupou Miguel Ângelo de 1508 a 1512, num trabalho de torturada obstinação e solidão.
O que ocupa estas linhas é a minha interpretação da parte central da abóbada – A Criação de Adão. Em 1993 tive a possibilidade de visitar a Capela Sistina e são as minhas impressões que desejo partilhar com os leitores.
No centro da abóbada, Miguel Ângelo pintou as nove cenas do Génesis. A solidão de um Deus possante faz criar um par semelhante. O Homem, vigoroso e atlético como o seu criador e a mulher que traz em si a ideia de toda a humanidade.
O físico de Deus suportado pelos espíritos do Universo e pela brisa intemporal estende o braço e diz: “ Façamos o Homem à nossa imagem, à nossa semelhança. Ele os criou - Homem e Mulher. Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra. Dou-vos o jardim do Éden.”
Adão com o braço vigoroso acata a vontade de Deus. O artista pinta o primeiro Homem e a primeira Mulher com rostos, braços, troncos e pernas como descreve a Bíblia: “ estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher.” Carregados de paixão, Adão e Eva caem inevitavelmente no que Deus tinha proibido. Dá-se a queda original e a expulsão do Éden.
O espectador ao contemplar a “Criação de Adão” repara que as dimensões dos corpos, do Criador e do seu modelo, aumentam e sobressaem como figuras centrais, simplificando-se os gestos até ao encontro dos dedos indicadores numa simbiose de Liberdade absoluta.
Quem entra na Capela Sistina, derradeira parte da visita ao Museu do Vaticano, fica sem palavras, assombrado, em êxtase, exclamando baixinho, como é possível um ser humano conceber obra tão divinal. Ninguém fala, as palavras não chegam para descrever o vigor das figuras, os gestos, as expressões, as cores, da obra grandiosa do atormentado Miguel Ângelo. Só a contemplação é possível.
Isabel Laranjeira, docente de Filosofia da Escola Frei Rosa Viterbo - Sátão
Após a concepção falhada da construção do mausoléu de Júlio II, na Basílica de S. Pedro, Miguel Ângelo retira-se de Roma, magoado com o recuo do Papa.
Em 1506 dá-se a reconciliação destes homens obstinados pela Arte. Júlio II incumbe Miguel Ângelo, que nada sabia da técnica do fresco, pintar a abóbada da Capela Sistina. O artista tenta escapar, dizendo que a arte de pintar não é a sua vocação.
O Papa voluntarioso impôs que Miguel Ângelo desse início ao seu pedido. O trabalho ímpar começou no dia dez de Maio de 1508. Miguel Ângelo partiu do nada. Recusou o andaime erguido por Bramante e ergueu o seu. Recusou a ajuda de pintores que tinham experiência de frescos e fechado na Capela com alguns trabalhadores, pintou não só a abóbada, mas também as paredes e até frescos antigos.
Cerca de trezentas figuras dão uma visão harmoniosa do conjunto do fresco que se estende por mil metros quadrados. A realização da obra ocupou Miguel Ângelo de 1508 a 1512, num trabalho de torturada obstinação e solidão.
O que ocupa estas linhas é a minha interpretação da parte central da abóbada – A Criação de Adão. Em 1993 tive a possibilidade de visitar a Capela Sistina e são as minhas impressões que desejo partilhar com os leitores.
No centro da abóbada, Miguel Ângelo pintou as nove cenas do Génesis. A solidão de um Deus possante faz criar um par semelhante. O Homem, vigoroso e atlético como o seu criador e a mulher que traz em si a ideia de toda a humanidade.
O físico de Deus suportado pelos espíritos do Universo e pela brisa intemporal estende o braço e diz: “ Façamos o Homem à nossa imagem, à nossa semelhança. Ele os criou - Homem e Mulher. Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra. Dou-vos o jardim do Éden.”
Adão com o braço vigoroso acata a vontade de Deus. O artista pinta o primeiro Homem e a primeira Mulher com rostos, braços, troncos e pernas como descreve a Bíblia: “ estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher.” Carregados de paixão, Adão e Eva caem inevitavelmente no que Deus tinha proibido. Dá-se a queda original e a expulsão do Éden.
O espectador ao contemplar a “Criação de Adão” repara que as dimensões dos corpos, do Criador e do seu modelo, aumentam e sobressaem como figuras centrais, simplificando-se os gestos até ao encontro dos dedos indicadores numa simbiose de Liberdade absoluta.
Quem entra na Capela Sistina, derradeira parte da visita ao Museu do Vaticano, fica sem palavras, assombrado, em êxtase, exclamando baixinho, como é possível um ser humano conceber obra tão divinal. Ninguém fala, as palavras não chegam para descrever o vigor das figuras, os gestos, as expressões, as cores, da obra grandiosa do atormentado Miguel Ângelo. Só a contemplação é possível.
Isabel Laranjeira, docente de Filosofia da Escola Frei Rosa Viterbo - Sátão
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