Mas o que é então o Existencialismo? Sartre define-o, como vimos, a partir do princípio de que, não existindo Deus, “há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por um conceito”, sendo este ser “o homem, ou, como diz Heidegger, a “realidade humana”. Para Sartre, portanto, o homem primeiro existe e depois é,; primeiro age e depois define-se a partir de tal acção. Não tem o homem pois uma “natureza” dada previamente, não se define antes de existir, mas a sua definição, o que ele é, a sua “essência”, será o que ele fizer, será o que ele se constrói, existindo. O homem, pois, faz-se ou é, genericamente, a “soma” dos seus actos. Digamos antes de mais que Heidegger recusou essa interpretação do seu pensar – uma vez que Sartre o liga à responsabilidade daquilo que ele próprio, Sartre, expõe. Tal pensar deduziu-se da afirmação de que o “que é” desse ente até onde pode falar-se dele, tem de conceber-se partindo do seu ser (“existência”). Ou de outro modo, “este ente é, no seu ser, determinado pela existência”. Quer dizer, pois: “a existência precede a essência”. Simplesmente Heidegger recusa a interpretação de “existência” dada por Sartre (o existir, o ser existente) e atribui-lhe apenas o radical sentido de ek-sistência – o “estar fora de”, o “ser- aí” (Da-sein), a estrutura ek-stática do “eu”. Dizer pois que “a existência precede a essência” significaria em Heidegger apenas o que é o manifestar-se, o estar-fora-de-si do Dasein, que este Dasein originariamente define. Aliás, para sermos mais rigorosos, a “essência” e “existência” do Dasein (digamos, do homem) são, segundo Heidegger, elementos que se implicam, originando um círculo inevitável, mas não propriamente “vicioso”. Porque faz parte da “essência” o manifestar-se, o estar fora, o ser ek-sitência; mas na ek-sistência implica-se o que o homem é, ou seja, a sua “essência”, porque é esse “estar fora” que constitui o que o define.
Vergílio Ferreira
SARTRE, Jean-Paul; FERREIRA, Vergílio, O Existencialismo é um Humanismo, 2004. Lisboa: Bertrand Editora, pp. 59-60
Vergílio Ferreira
SARTRE, Jean-Paul; FERREIRA, Vergílio, O Existencialismo é um Humanismo, 2004. Lisboa: Bertrand Editora, pp. 59-60
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