Raciocínio moral
Sou ainda a Ima. Preciso de uma terceira secção para te explicar como o emotivismo lida com os raciocínios morais.
Se assumirmos um sistema de normas, podemos raciocinar sobre questões morais. Podemos então apelar a factos empíricos para mostrar que, dadas estas normas e estes factos empíricos, segue-se uma dada conclusão moral. Supõe que todos temos o sentimento de que mentir é errado; podemos depois apelar a factos empíricos (que o presidente mentiu) para estabelecer uma conclusão moral (que o presidente agiu de forma errada). Este género de raciocínio pode ser útil num grupo que partilhe normas.
Podemos raciocinar sobre princípios morais básicos. Neste ponto podemos usar significados emocionais ― mas não a razão. Imagina que estás a discutir com um Nazi. O mais certo é que discordem acerca de algum princípio moral básico. Talvez tu defendas que todas as raças devem ser tratadas com respeito, enquanto ele pensa que a sua raça deve ser melhor tratada. Vemos isto como uma diferença de sentimentos, ao passo que os intuicionistas o vêem como uma diferença de intuições morais. Mas nenhum dos pontos de vista pode avançar por intermédio do raciocínio. Por conseguinte, o intuicionismo não tem qualquer vantagem prática sobre o emotivismo. Em alternativa, o emotivismo tem vantagens, uma vez que mostra que podemos avançar apelando, não à razão, mas à emoção. Para convencer os Nazis, temos de fazê-los sentir de forma diferente acerca das outras raças. Temos de transformar o seu ódio e a sua hostilidade em sentimentos de amizade e tolerância.
Também na educação moral, procedemos como os intuicionistas, com excepção de que falamos de sentimentos em vez de verdades. Como pais, devemos primeiro ter sentimentos claros acerca de como viver; depois podemos ensinar estes sentimentos às nossas crianças por intermédio de exemplos pessoais, instruções verbais, louvores e censuras, recompensas e castigos. Se este ensino for bem sucedido, as nossas crianças partilharão os nossos sentimentos acerca de como viver. Mas nada as impede de mudar de sentimentos mais tarde.
As pessoas alegam às vezes que o emotivismo destruiria a moralidade e a vida moral. Mas isto é um erro. No essencial temos os mesmos valores que os intuicionistas. A principal diferença reside em que não pensamos que haja algo objectivo por detrás dos nossos valores. Consideramos que a moralidade é sobre sentimentos e não sobre verdades. Mas apesar disso podemos ter sentimentos fortes em relação aos nossos valores.
Problemas do positivismo
A Ima Emotivista apresentou uma formulação muito clara de uma perspectiva muito importante sobre a moralidade. O seu ponto de vista constitui um desafio para todos aqueles que querem acreditar em verdades morais e em conhecimento moral e desejam que a razão tenha um papel importante na ética.
A crença da Ima no positivismo lógico levou-a ao emotivismo. Podemos formular o seu argumento do seguinte modo:
Qualquer genuína afirmação de verdade é empírica (testável por intermédio da experiência) ou analítica (verdadeira por definição).
As afirmações de carácter moral não são empíricas nem analíticas.
Sou ainda a Ima. Preciso de uma terceira secção para te explicar como o emotivismo lida com os raciocínios morais.
Se assumirmos um sistema de normas, podemos raciocinar sobre questões morais. Podemos então apelar a factos empíricos para mostrar que, dadas estas normas e estes factos empíricos, segue-se uma dada conclusão moral. Supõe que todos temos o sentimento de que mentir é errado; podemos depois apelar a factos empíricos (que o presidente mentiu) para estabelecer uma conclusão moral (que o presidente agiu de forma errada). Este género de raciocínio pode ser útil num grupo que partilhe normas.
Podemos raciocinar sobre princípios morais básicos. Neste ponto podemos usar significados emocionais ― mas não a razão. Imagina que estás a discutir com um Nazi. O mais certo é que discordem acerca de algum princípio moral básico. Talvez tu defendas que todas as raças devem ser tratadas com respeito, enquanto ele pensa que a sua raça deve ser melhor tratada. Vemos isto como uma diferença de sentimentos, ao passo que os intuicionistas o vêem como uma diferença de intuições morais. Mas nenhum dos pontos de vista pode avançar por intermédio do raciocínio. Por conseguinte, o intuicionismo não tem qualquer vantagem prática sobre o emotivismo. Em alternativa, o emotivismo tem vantagens, uma vez que mostra que podemos avançar apelando, não à razão, mas à emoção. Para convencer os Nazis, temos de fazê-los sentir de forma diferente acerca das outras raças. Temos de transformar o seu ódio e a sua hostilidade em sentimentos de amizade e tolerância.
Também na educação moral, procedemos como os intuicionistas, com excepção de que falamos de sentimentos em vez de verdades. Como pais, devemos primeiro ter sentimentos claros acerca de como viver; depois podemos ensinar estes sentimentos às nossas crianças por intermédio de exemplos pessoais, instruções verbais, louvores e censuras, recompensas e castigos. Se este ensino for bem sucedido, as nossas crianças partilharão os nossos sentimentos acerca de como viver. Mas nada as impede de mudar de sentimentos mais tarde.
As pessoas alegam às vezes que o emotivismo destruiria a moralidade e a vida moral. Mas isto é um erro. No essencial temos os mesmos valores que os intuicionistas. A principal diferença reside em que não pensamos que haja algo objectivo por detrás dos nossos valores. Consideramos que a moralidade é sobre sentimentos e não sobre verdades. Mas apesar disso podemos ter sentimentos fortes em relação aos nossos valores.
Problemas do positivismo
A Ima Emotivista apresentou uma formulação muito clara de uma perspectiva muito importante sobre a moralidade. O seu ponto de vista constitui um desafio para todos aqueles que querem acreditar em verdades morais e em conhecimento moral e desejam que a razão tenha um papel importante na ética.
A crença da Ima no positivismo lógico levou-a ao emotivismo. Podemos formular o seu argumento do seguinte modo:
Qualquer genuína afirmação de verdade é empírica (testável por intermédio da experiência) ou analítica (verdadeira por definição).
As afirmações de carácter moral não são empíricas nem analíticas.
Logo, as afirmações de carácter moral não são afirmações de verdade genuínas.
O problema aqui é que a primeira premissa, a afirmação central do positivismo lógico, refuta-se a si mesma. Assumamos que a primeira premissa é verdadeira. A premissa é empírica (testável por intermédio da experiência)? Não parece. É analítica (verdadeira por definição)? Mais uma vez, não parece. Logo, nos seus próprios termos, não é uma genuína afirmação de verdade ― e, por isso, não pode ser verdadeira.
Por isso, a premissa refuta-se a si própria; se assumimos que é verdadeira, podemos mostrar que não é verdadeira. Para vermos a objecção com mais clareza, examinemos a formulação grosseira que Ima dá do positivismo lógico:
Um ponto de vista tem que ser testável por intermédio da experiência sensível ― de outra forma não tem sentido.
Esta afirmação não pode ser testada por intermédio da experiência sensível. Mas então, nos seus próprios termos, não tem sentido. Assim, a afirmação refuta-se a si mesma.
Os filósofos que adoram a ciência com frequência contradizem-se. Fazem afirmações, que não podem ser baseadas na ciência, sobre a ciência ser o único caminho para a verdade. Estes filósofos violam o nosso primeiro dever como seres racionais, que é, não a exigência impossível de que provemos todas as nossas afirmações, mas a humilde exigência de que as nossas afirmações sejam consistentes.
Ayer e os outros positivistas lógicos são pessoas lógicas e abandonaram o seu ponto de vista quando viram que se refutava a si mesmo. O seu ponto de vista também tinha outros problemas; por exemplo, revelou-se impossível dar uma definição clara de "empírico". Poucos filósofos aceitam hoje o positivismo lógico.
O problema aqui é que a primeira premissa, a afirmação central do positivismo lógico, refuta-se a si mesma. Assumamos que a primeira premissa é verdadeira. A premissa é empírica (testável por intermédio da experiência)? Não parece. É analítica (verdadeira por definição)? Mais uma vez, não parece. Logo, nos seus próprios termos, não é uma genuína afirmação de verdade ― e, por isso, não pode ser verdadeira.
Por isso, a premissa refuta-se a si própria; se assumimos que é verdadeira, podemos mostrar que não é verdadeira. Para vermos a objecção com mais clareza, examinemos a formulação grosseira que Ima dá do positivismo lógico:
Um ponto de vista tem que ser testável por intermédio da experiência sensível ― de outra forma não tem sentido.
Esta afirmação não pode ser testada por intermédio da experiência sensível. Mas então, nos seus próprios termos, não tem sentido. Assim, a afirmação refuta-se a si mesma.
Os filósofos que adoram a ciência com frequência contradizem-se. Fazem afirmações, que não podem ser baseadas na ciência, sobre a ciência ser o único caminho para a verdade. Estes filósofos violam o nosso primeiro dever como seres racionais, que é, não a exigência impossível de que provemos todas as nossas afirmações, mas a humilde exigência de que as nossas afirmações sejam consistentes.
Ayer e os outros positivistas lógicos são pessoas lógicas e abandonaram o seu ponto de vista quando viram que se refutava a si mesmo. O seu ponto de vista também tinha outros problemas; por exemplo, revelou-se impossível dar uma definição clara de "empírico". Poucos filósofos aceitam hoje o positivismo lógico.
Harry J. Gensler
Retirado de http://www.criticanarede.com/
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