Parte II
"Bem" é emocional
Sou ainda a Ima. Preciso de outra secção para explicar com mais clareza o que o emotivismo defende.
O emotivismo considera que o juízo moral é a expressão de um sentimento e não uma afirmação que seja literalmente verdadeira ou falsa. Os juízos morais são exclamações: "X é bom" significa "Viva X!" ― e "X é mau" significa "Abaixo X!" Uma exclamação não afirma nenhum facto e não é verdadeira nem falsa. Uma vez que os juízos morais são exclamações, não pode haver verdades ou conhecimento morais.
Não tomes "viva" e "abaixo" à letra. O Português tem muitas palavras para expressar sentimentos positivos e negativos. Em vez de "abaixo", poderíamos dizer "tss", "yeech", ou "tchi"; ou poderíamos abanar o dedo em sinal de desaprovação. Isto exprime diferentes formas de sentimento e ajusta-se a diferentes contextos. Pode não haver nenhuma exclamação em Português que seja exactamente equivalente a "mau" (embora possamos inventar uma se o desejarmos). O que importa notar é que "mau" expressa sentimentos negativos, tal como "abaixo", e funciona como uma exclamação.
Não confundas o nosso ponto de vista com o subjectivismo. Nós defendemos que os juízos morais expressam sentimentos mas não afirmam verdades acerca dos sentimentos. Os exemplos seguintes podem tornar a minha distinção mais clara:
Expressa apenas os sentimentos (emotivismo):
Brrr!Ha, ha!Wow!Viva X!
Verdades acerca dos sentimentos (subjectivismo):
Sinto frio.Acho isso engraçado.Estou impressionado.Gosto de X.
Supõe que dizes "Brrr!" quando tremes de frio. O teu "Brrr!" não é literalmente verdadeiro nem falso; seria despropositado responder dizendo "É verdade." Agora supõe que dizes "Sinto frio". Neste caso estás a dizer algo que é verdade ― uma vez que sentes frio. Um juízo moral é como "Brrr!" (que expressa apenas os teus sentimentos), e não como "Sinto frio" (que é uma afirmação verdadeira acerca dos teus sentimentos). Esta distinção permite-nos evitar alguns problemas do subjectivismo. Supõe que Hitler, que gostava de matar Judeus, diz "Matar Judeus é bom". No subjectivismo, a afirmação de Hitler é verdadeira (uma vez que significa que ele gosta de matar Judeus). Isto é bizarro. Nós pensamos que a afirmação de Hitler é uma exclamação ("Viva a morte de Judeus!") e, por isso, não é verdadeira nem falsa. Não podemos dizer que o juízo moral de Hitler é falso; mas pelo menos não temos que dizer que é verdadeiro.
Embora os juízos morais expressem os nossos sentimentos pessoais, também têm funções sociais. Usamos frequentemente juízos morais para influenciar as emoções das pessoas e estimulá-las a agir. Por exemplo, digo à minha irmã pequena, "É bom que apanhes os teus brinquedos." Tento que tenha sentimentos positivos acerca de apanhar os seus brinquedos ― e que aja de acordo com isso.
Às vezes usamos os juízos morais para nos influenciarmos a nós mesmos. De manhã, quando o despertador toca, tenho de levantar-me para ir para o laboratório de química, embora me agradasse ficar na cama. Nessas ocasiões digo para mim mesma, "É bom levantar-me agora!" Isto é como dizer, "Viva levantar-me agora!" Parte de mim é uma chefe de claque que tenta influenciar a outra parte. No meu íntimo, as diferentes emoções lutam pela supremacia. Para dar outro exemplo, às vezes sinto vontade de ser desagradável com alguém, mas parte de mim diz "Isso é mau ― abaixo!"
Antes de fechar esta secção, vou apresentar outro argumento forte a favor do meu ponto de vista. O emotivismo é melhor que outros pontos de vista porque é mais simples e explica mais factos. Em filosofia, como em ciência, um ponto de vista é melhor se é mais simples e explica mais coisas.
Em primeiro lugar, o emotivismo explica a moralidade de forma mais simples. Os juízos de valor expressam sentimentos positivos ou negativos. Que poderia ser mais simples? Não usamos coisas que sejam de defesa difícil. Os supernaturalistas têm que defender a crença em Deus ― com todas as dificuldades inerentes. E os intuicionistas têm que defender a existência de factos morais objectivos e irredutíveis. Suponhamos que és materialista e sustentas que os factos do universo em última instância podem ser expressos na linguagem da física e da química. Como é que factos morais objectivos e irredutíveis se adequam a um tal universo? Os factos morais são feitos a partir dos elementos químicos, ou que tipo de coisa estranha são eles? E como poderemos conhecer tais factos misteriosos? O emotivismo evita estes problemas e assim explica a moralidade com mais simplicidade.
Em segundo lugar, o emotivismo explica mais factos morais. A razão pela qual não podemos definir "bem" com termos puramente descritivos está em que "bem" é emocional. A razão pela qual não podemos resolver diferenças morais básicas intelectualmente está em que estas diferenças são emocionais (e por isso não são inteiramente intelectuais). A razão pela qual nós, seres humanos, diferimos tanto nas nossas crenças morais está em que temos sentimentos diferentes sobre as coisas. Assim que assumimos o ponto de vista emotivista, a moralidade torna-se mais compreensível.
Por último, o emotivismo explica correctamente o que "bem" e "mal" significam. Ontem fui a um restaurante com o meu namorado. Para nos divertirmos, usámos "viva" para "bom" e "abaixo" para "mau". Ao princípio foi cómico, mas fazia sentido. Conseguimos dizer tudo o que queríamos. E não nos pareceu que tivéssemos mudado o sentido daquilo que estávamos a dizer (como teria acontecido se tivéssemos usado em vez de "bem" "socialmente aprovado" ou "desejado por Deus"). Assim, o emotivismo é linguisticamente preciso. Se tens dúvidas, faz a experiência; mas não fiques surpreendido se o empregado de mesa olhar para ti espantado.
Harry J. Gensler
Retirado de http://www.criticanarede.com/
"Bem" é emocional
Sou ainda a Ima. Preciso de outra secção para explicar com mais clareza o que o emotivismo defende.
O emotivismo considera que o juízo moral é a expressão de um sentimento e não uma afirmação que seja literalmente verdadeira ou falsa. Os juízos morais são exclamações: "X é bom" significa "Viva X!" ― e "X é mau" significa "Abaixo X!" Uma exclamação não afirma nenhum facto e não é verdadeira nem falsa. Uma vez que os juízos morais são exclamações, não pode haver verdades ou conhecimento morais.
Não tomes "viva" e "abaixo" à letra. O Português tem muitas palavras para expressar sentimentos positivos e negativos. Em vez de "abaixo", poderíamos dizer "tss", "yeech", ou "tchi"; ou poderíamos abanar o dedo em sinal de desaprovação. Isto exprime diferentes formas de sentimento e ajusta-se a diferentes contextos. Pode não haver nenhuma exclamação em Português que seja exactamente equivalente a "mau" (embora possamos inventar uma se o desejarmos). O que importa notar é que "mau" expressa sentimentos negativos, tal como "abaixo", e funciona como uma exclamação.
Não confundas o nosso ponto de vista com o subjectivismo. Nós defendemos que os juízos morais expressam sentimentos mas não afirmam verdades acerca dos sentimentos. Os exemplos seguintes podem tornar a minha distinção mais clara:
Expressa apenas os sentimentos (emotivismo):
Brrr!Ha, ha!Wow!Viva X!
Verdades acerca dos sentimentos (subjectivismo):
Sinto frio.Acho isso engraçado.Estou impressionado.Gosto de X.
Supõe que dizes "Brrr!" quando tremes de frio. O teu "Brrr!" não é literalmente verdadeiro nem falso; seria despropositado responder dizendo "É verdade." Agora supõe que dizes "Sinto frio". Neste caso estás a dizer algo que é verdade ― uma vez que sentes frio. Um juízo moral é como "Brrr!" (que expressa apenas os teus sentimentos), e não como "Sinto frio" (que é uma afirmação verdadeira acerca dos teus sentimentos). Esta distinção permite-nos evitar alguns problemas do subjectivismo. Supõe que Hitler, que gostava de matar Judeus, diz "Matar Judeus é bom". No subjectivismo, a afirmação de Hitler é verdadeira (uma vez que significa que ele gosta de matar Judeus). Isto é bizarro. Nós pensamos que a afirmação de Hitler é uma exclamação ("Viva a morte de Judeus!") e, por isso, não é verdadeira nem falsa. Não podemos dizer que o juízo moral de Hitler é falso; mas pelo menos não temos que dizer que é verdadeiro.
Embora os juízos morais expressem os nossos sentimentos pessoais, também têm funções sociais. Usamos frequentemente juízos morais para influenciar as emoções das pessoas e estimulá-las a agir. Por exemplo, digo à minha irmã pequena, "É bom que apanhes os teus brinquedos." Tento que tenha sentimentos positivos acerca de apanhar os seus brinquedos ― e que aja de acordo com isso.
Às vezes usamos os juízos morais para nos influenciarmos a nós mesmos. De manhã, quando o despertador toca, tenho de levantar-me para ir para o laboratório de química, embora me agradasse ficar na cama. Nessas ocasiões digo para mim mesma, "É bom levantar-me agora!" Isto é como dizer, "Viva levantar-me agora!" Parte de mim é uma chefe de claque que tenta influenciar a outra parte. No meu íntimo, as diferentes emoções lutam pela supremacia. Para dar outro exemplo, às vezes sinto vontade de ser desagradável com alguém, mas parte de mim diz "Isso é mau ― abaixo!"
Antes de fechar esta secção, vou apresentar outro argumento forte a favor do meu ponto de vista. O emotivismo é melhor que outros pontos de vista porque é mais simples e explica mais factos. Em filosofia, como em ciência, um ponto de vista é melhor se é mais simples e explica mais coisas.
Em primeiro lugar, o emotivismo explica a moralidade de forma mais simples. Os juízos de valor expressam sentimentos positivos ou negativos. Que poderia ser mais simples? Não usamos coisas que sejam de defesa difícil. Os supernaturalistas têm que defender a crença em Deus ― com todas as dificuldades inerentes. E os intuicionistas têm que defender a existência de factos morais objectivos e irredutíveis. Suponhamos que és materialista e sustentas que os factos do universo em última instância podem ser expressos na linguagem da física e da química. Como é que factos morais objectivos e irredutíveis se adequam a um tal universo? Os factos morais são feitos a partir dos elementos químicos, ou que tipo de coisa estranha são eles? E como poderemos conhecer tais factos misteriosos? O emotivismo evita estes problemas e assim explica a moralidade com mais simplicidade.
Em segundo lugar, o emotivismo explica mais factos morais. A razão pela qual não podemos definir "bem" com termos puramente descritivos está em que "bem" é emocional. A razão pela qual não podemos resolver diferenças morais básicas intelectualmente está em que estas diferenças são emocionais (e por isso não são inteiramente intelectuais). A razão pela qual nós, seres humanos, diferimos tanto nas nossas crenças morais está em que temos sentimentos diferentes sobre as coisas. Assim que assumimos o ponto de vista emotivista, a moralidade torna-se mais compreensível.
Por último, o emotivismo explica correctamente o que "bem" e "mal" significam. Ontem fui a um restaurante com o meu namorado. Para nos divertirmos, usámos "viva" para "bom" e "abaixo" para "mau". Ao princípio foi cómico, mas fazia sentido. Conseguimos dizer tudo o que queríamos. E não nos pareceu que tivéssemos mudado o sentido daquilo que estávamos a dizer (como teria acontecido se tivéssemos usado em vez de "bem" "socialmente aprovado" ou "desejado por Deus"). Assim, o emotivismo é linguisticamente preciso. Se tens dúvidas, faz a experiência; mas não fiques surpreendido se o empregado de mesa olhar para ti espantado.
Harry J. Gensler
Retirado de http://www.criticanarede.com/
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