António Aníbal Padrão
Escola Secundária de Alberto Sampaio, Braga
Escola Secundária de Alberto Sampaio, Braga
Introdução
Todas
as disciplinas têm um objecto de estudo. O objecto de estudo de uma disciplina
é aquilo que essa disciplina estuda. Então, qual é o objecto de estudo da
lógica? O que é que a lógica estuda? A lógica estuda e sistematiza a validade
ou invalidade da argumentação. Também se diz que estuda inferências ou
raciocínios. Podes considerar que argumentos, inferências e raciocínios são
termos equivalentes.
Muito
bem, a lógica estuda argumentos. Mas qual é o interesse disso para a filosofia?
Bem, tenho de te lembrar que a argumentação é o coração da filosofia. Em
filosofia temos a liberdade de defender as nossas ideias, mas temos de
sustentar o que defendemos com bons argumentos e, é claro, também temos de
aceitar discutir os nossos argumentos.
Os
argumentos constituem um dos três elementos centrais da filosofia. Os outros
dois são os problemas e as teorias. Com efeito, ao longo dos séculos, os
filósofos têm procurado resolver problemas, criando teorias que se apoiam em
argumentos.
Estás
a ver por que é que o estudo dos argumentos é importante, isto é, por que é que
a lógica é importante. É importante, porque nos ajuda a distinguir os
argumentos válidos dos inválidos, permite-nos compreender por que razão uns são
válidos e outros não e ensina-nos a argumentar correctamente. E isto é
fundamental para a filosofia.
O que é um argumento?
Um
argumento é um conjunto de proposições que utilizamos para justificar (provar,
dar razão, suportar) algo. A proposição que queremos justificar tem o nome de
conclusão; as proposições que pretendem apoiar a conclusão ou a justificam têm
o nome de premissas.
Supõe
que queres pedir aos teus pais um aumento da "mesada". Como
justificas este aumento? Recorrendo a razões, não é? Dirás qualquer coisa como:
Os preços no
bar da escola subiram; como eu lancho no bar da escola, o lanche fica me mais
caro. Portanto, preciso de um aumento da "mesada".
Temos
aqui um argumento, cuja conclusão é: "preciso de um aumento da
'mesada'". E como justificas esta conclusão? Com a subida dos preços no
bar da escola e com o facto de lanchares no bar. Então, estas são as premissas
do teu argumento, são as razões que utilizas para defender a conclusão.
Este
exemplo permite-nos esclarecer outro aspecto dos argumentos, que é o seguinte:
embora um argumento seja um conjunto de proposições, nem todos os conjuntos de
proposições são argumentos. Por exemplo, o seguinte conjunto de proposições não
é um argumento:
Eu lancho no bar da escola, mas o João não.
A Joana come pipocas no cinema.
O Rui foi ao museu.
A Joana come pipocas no cinema.
O Rui foi ao museu.
Neste caso, não temos um
argumento, porque não há nenhuma pretensão de justificar uma proposição com
base nas outras. Nem há nenhuma pretensão de apresentar um conjunto de
proposições com alguma relação entre si. Há apenas uma sequência de afirmações.
E um argumento é, como já vimos, um conjunto de proposições em que se pretende
que uma delas seja sustentada ou justificada pelas outras — o que não acontece
no exemplo anterior.
Um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas só pode ter uma conclusão.Exemplos de argumentos com uma só premissa:
Exemplo 1
Premissa: Todos os portugueses são europeus.
Conclusão: Logo, alguns europeus são portugueses.
Conclusão: Logo, alguns europeus são portugueses.
Exemplo 2
Premissa: O João e o José são alunos do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João é aluno do 11.º ano.
Exemplos de argumentos com duas premissas:Conclusão: Logo, o João é aluno do 11.º ano.
Exemplo 1
Premissa 1: Se o João é um aluno do 11.º ano, então estuda
filosofia.
Premissa 2: O João é um aluno do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João estuda filosofia.
Premissa 2: O João é um aluno do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João estuda filosofia.
Exemplo 2
Premissa 1: Se não houvesse vida para além da morte, então a
vida não faria sentido.
Premissa 2: Mas a vida faz sentido.
Conclusão: Logo, há vida para além da morte.
Premissa 2: Mas a vida faz sentido.
Conclusão: Logo, há vida para além da morte.
Exemplo 3:
Premissa 1: Todos os minhotos são portugueses.
Premissa 2: Todos os portugueses são europeus.
Conclusão: Todos os minhotos são europeus.
Premissa 2: Todos os portugueses são europeus.
Conclusão: Todos os minhotos são europeus.
É
claro que a maior parte das vezes os argumentos não se apresentam nesta forma.
Repara, por exemplo, no argumento de Kant a favor do valor objectivo da
felicidade, tal como é apresentado por Aires Almeida et al. (2003b) no site de
apoio ao manual A Arte de Pensar:
"De um
ponto de vista imparcial, cada pessoa é um fim em si. Mas se cada pessoa é
um fim em si, a felicidade de cada pessoa tem valor de um ponto de vista
imparcial e não apenas do ponto de vista de cada pessoa. Dado que cada pessoa é
realmente um fim em si, podemos concluir que a felicidade tem valor de um ponto
de vista imparcial."
Neste
argumento, a conclusão está claramente identificada ("podemos concluir
que…"), mas nem sempre isto acontece. Contudo, há certas expressões que
nos ajudam a perceber qual é a conclusão do argumento e quais são as premissas.
Repara, no argumento anterior, na expressão "dado que". Esta
expressão é um indicador de premissa: ficamos a saber que o que se segue a esta
expressão é uma premissa do argumento. Também há indicadores de conclusão: dois
dos mais utilizados são "logo" e "portanto".
Um indicador é um articulador do discurso, é uma
palavra ou expressão que utilizamos para introduzir uma razão (uma premissa) ou
uma conclusão. O quadro seguinte apresenta alguns indicadores de premissa e de
conclusão:
Indicadores de premissa
|
Indicadores de conclusão
|
pois
porque dado que como foi dito visto que devido a a razão é que admitindo que sabendo-se que assumindo que |
por isso
por conseguinte implica que logo portanto então daí que segue-se que pode-se inferir que consequentemente |
É
claro que nem sempre as premissas e a conclusão são precedidas por indicadores.
Por exemplo, no argumento:
O Mourinho é
treinador de futebol e ganha mais de 100000 euros por mês. Portanto, há
treinadores de futebol que ganham mais de 100000 euros por mês.
A
conclusão é precedida do indicador "Portanto", mas as premissas não
têm nenhum indicador.
Por
outro lado, aqueles indicadores (palavras e expressões) podem aparecer em
frases sem que essas frases sejam premissas ou conclusões de argumentos. Por
exemplo, se eu disser:
Depois de se
separar do dono, o cão nunca mais foi o mesmo. Então, um dia ele partiu e nunca
mais foi visto. Admitindo que não morreu, onde estará?
O
que se segue à palavra "Então" não é conclusão de nenhum argumento, e
o que segue a "Admitindo que" não é premissa, pois nem sequer tenho
aqui um argumento. Por isso, embora seja útil, deves usar a informação do
quadro de indicadores de premissa e de conclusão criticamente e não de forma
automática.
Proposições e frases
Um
argumento é um conjunto de proposições. Quer as premissas quer a conclusão de
um argumento são proposições. Mas o que é uma proposição?
· Uma proposição é o pensamento que uma frase
declarativa exprime literalmente.
Não
deves confundir proposições com frases. Uma frase é uma entidade linguística, é
a unidade gramatical mínima de sentido. Por exemplo, o conjunto de palavras
"Braga é uma" não é uma frase. Mas o conjunto de palavras "Braga
é uma cidade" é uma frase, pois já se apresenta com sentido gramatical.
Há
vários tipos de frases: declarativas, interrogativas, imperativas e
exclamativas. Mas só as frases declarativas exprimem proposições. Uma frase só
exprime uma proposição quando o que ela afirma tem valor de verdade.
Por exemplo, as seguintes frases não exprimem proposições, porque não têm
valor de verdade, isto é, não são verdadeiras nem falsas:
1. Que horas são?
2. Traz o livro.
3. Prometo ir contigo ao cinema.
4. Quem me dera gostar de Matemática.
2. Traz o livro.
3. Prometo ir contigo ao cinema.
4. Quem me dera gostar de Matemática.
Mas as frases seguintes
exprimem proposições, porque têm valor de verdade, isto é, são verdadeiras ou
falsas, ainda que, acerca de algumas, não saibamos, neste momento, se são
verdadeiras ou falsas:
1. Braga é a capital de Portugal.
2. Braga é uma cidade minhota.
3. A neve é branca.
4. Há seres extraterrestres inteligentes.
2. Braga é uma cidade minhota.
3. A neve é branca.
4. Há seres extraterrestres inteligentes.
A frase 1 é falsa, a 2 e a 3 são verdadeiras. E a
4? Bem, não sabemos qual é o seu valor de verdade, não sabemos se é verdadeira
ou falsa, mas sabemos que tem de ser verdadeira ou falsa. Por isso, também
exprime uma proposição.
Uma proposição é
uma entidade abstracta, é o pensamento que uma frase declarativa exprime
literalmente. Ora, um mesmo pensamento pode ser expresso por diferentes frases.
Por isso, a mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases. Por
exemplo, as frases "O governo demitiu o presidente da TAP" e "O
presidente da TAP foi demitido pelo governo" exprimem a mesma proposição.
As frases seguintes também exprimem a mesma proposição: "A neve é
branca" e "Snow is white".
Ambiguidade e vagueza
Para
além de podermos ter a mesma proposição expressa por diferentes frases, também
pode acontecer que a mesma frase exprima mais do que uma proposição. Neste caso
dizemos que a frase é ambígua. A frase "Em cada dez minutos, um homem
português pega numa mulher ao colo" é ambígua, porque exprime mais do que
uma proposição: tanto pode querer dizer que existe um homem português (sempre o
mesmo) que, em cada dez minutos, pega numa mulher ao colo, como pode querer
dizer que, em cada dez minutos, um homem português (diferente) pega numa mulher
ao colo (a sua).
Por
vezes, deparamo-nos com frases que não sabemos com exactidão o que significam.
São as frases vagas. Uma frase vaga é uma frase que dá origem a casos de
fronteira indecidíveis. Por exemplo, "O professor de Filosofia é
calvo" é uma frase vaga, porque não sabemos a partir de quantos cabelos é
que podemos considerar que alguém é calvo. Quinhentos? Cem? Dez? Outro exemplo
de frase vaga é o seguinte: "Muitos alunos tiveram negativa no teste de
Filosofia". Muitos, mas quantos? Dez? Vinte? Em filosofia devemos evitar
as frases vagas, pois, se não comunicarmos com exactidão o nosso pensamento,
como é que podemos esperar que os outros nos compreendam?
Validade e verdade
A
verdade é uma propriedade das proposições. A validade é uma propriedade dos
argumentos. É incorrecto falar em proposições válidas. As proposições não são
válidas nem inválidas. As proposições só podem ser verdadeiras ou falsas.
Também é incorrecto dizer que os argumentos são verdadeiros ou que são falsos.
Os argumentos não são verdadeiros nem falsos. Os argumentos dizem-se válidos ou
inválidos.
Quando
é que um argumento é válido? Por agora, referirei apenas a validade dedutiva.
Diz-se que um argumento dedutivo é válido quando é impossível que as suas
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Repara que, para um argumento
ser válido, não basta que as premissas e a conclusão sejam verdadeiras. É
preciso que seja impossível que sendo as premissas verdadeiras, a conclusão
seja falsa.
Considera o seguinte argumento:
Premissa 1: Alguns treinadores de futebol ganham mais de
100000 euros por mês.
Premissa 2: O Mourinho é um treinador de futebol.
Conclusão: Logo, o Mourinho ganha mais de 100000 euros por mês.
Premissa 2: O Mourinho é um treinador de futebol.
Conclusão: Logo, o Mourinho ganha mais de 100000 euros por mês.
Neste momento (Julho de 2004),
em que o Mourinho é treinador do Chelsea e os jornais nos informam que ganha
muito acima de 100000 euros por mês, este argumento tem premissas verdadeiras e
conclusão verdadeira e, contudo, não é válido. Não é válido, porque não é
impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Podemos
perfeitamente imaginar uma circunstância em que o Mourinho ganhasse menos de
100000 euros por mês (por exemplo, o Mourinho como treinador de um clube do
campeonato regional de futebol, a ganhar 1000 euros por mês), e, neste caso, a
conclusão já seria falsa, apesar de as premissas serem verdadeiras. Portanto, o
argumento é inválido.
Considera, agora, o seguinte argumento, anteriormente apresentado:
Premissa: O João e o José são alunos do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João é aluno do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João é aluno do 11.º ano.
Este argumento é válido, pois
é impossível que a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa. Ao contrário
do argumento que envolve o Mourinho, neste não podemos imaginar nenhuma
circunstância em que a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa. Podes
imaginar o caso em que o João não é aluno do 11.º ano. Bem, isto significa que
a conclusão é falsa, mas a premissa também é falsa.
Repara, agora, no seguinte argumento:
Premissa 1: Todos os números primos são pares.
Premissa 2: Nove é um número primo.
Conclusão: Logo, nove é um número par.
Premissa 2: Nove é um número primo.
Conclusão: Logo, nove é um número par.
Este argumento é válido,
apesar de quer as premissas quer a conclusão serem falsas. Continua a
aplicar-se a noção de validade dedutiva anteriormente apresentada: é impossível
que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. A validade de um
argumento dedutivo depende da conexão lógica entre as premissas e a conclusão
do argumento e não do valor de verdade das proposições que constituem o
argumento. Como vês, a validade é uma propriedade diferente da verdade. A
verdade é uma propriedade das proposições que constituem os argumentos (mas não
dos argumentos) e a validade é uma propriedade dos argumentos (mas não das
proposições).
Então, repara que podemos ter:
· Argumentos válidos, com premissas verdadeiras
e conclusão verdadeira;
· Argumentos válidos, com premissas falsas e
conclusão falsa;
· Argumentos válidos, com premissas falsas e
conclusão verdadeira;
· Argumentos inválidos, com premissas
verdadeiras e conclusão verdadeira;
· Argumentos inválidos, com premissas
verdadeiras e conclusão falsa;
· Argumentos inválidos, com premissas falsas e
conclusão falsa; e
· Argumentos inválidos, com premissas falsas e
conclusão verdadeira.
Mas não podemos ter:
· Argumentos válidos, com premissas verdadeiras
e conclusão falsa.
Como podes determinar se um argumento dedutivo é válido? Podes seguir esta
regra:
Mesmo que as
premissas do argumento não sejam verdadeiras, imagina que são verdadeiras.
Consegues imaginar alguma circunstância em que, considerando as premissas
verdadeiras, a conclusão é falsa? Se sim, então o argumento não é válido. Se
não, então o argumento é válido.
Lembra-te: num
argumento válido, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão não pode ser
falsa.
Argumentos sólidos e argumentos bons
Em filosofia não é suficiente
termos argumentos válidos, pois, como viste, podemos ter argumentos válidos com
conclusão falsa (se pelo menos uma das premissas for falsa). Em filosofia
pretendemos chegar a conclusões verdadeiras. Por isso, precisamos de argumentos
sólidos.
· Um argumento sólido é um argumento válido com
premissas verdadeiras.
Um argumento sólido não pode
ter conclusão falsa, pois, por definição, é válido e tem premissas verdadeiras;
ora, a validade exclui a possibilidade de se ter premissas verdadeiras e
conclusão falsa.
O seguinte argumento é válido, mas não é sólido:
Todos os minhotos são alentejanos.
Todos os bracarenses são minhotos.
Logo, todos os bracarenses são alentejanos.
Todos os bracarenses são minhotos.
Logo, todos os bracarenses são alentejanos.
Este argumento não é sólido,
porque a primeira premissa é falsa (os minhotos não são alentejanos). E é
porque tem uma premissa falsa que a conclusão é falsa, apesar de o argumento
ser válido.
O seguinte argumento é sólido (é válido e tem premissas verdadeiras):
Todos os minhotos são portugueses.
Todos os bracarenses são minhotos.
Logo, todos os bracarenses são portugueses.
Todos os bracarenses são minhotos.
Logo, todos os bracarenses são portugueses.
Também podemos ter argumentos sólidos deste tipo:
Sócrates era grego.
Logo, Sócrates era grego.
Logo, Sócrates era grego.
(É
claro que me estou a referir ao Sócrates, filósofo grego e mestre de Platão, e
não ao Sócrates, candidato a secretário geral do Partido Socialista. Por isso,
a premissa e a conclusão são verdadeiras.)
Este
argumento é sólido, porque tem premissa verdadeira e é impossível que, sendo a
premissa verdadeira, a conclusão seja falsa. É sólido, mas não é um bom
argumento, porque a conclusão se limita a repetir a premissa.
· Um argumento bom (ou forte) é um argumento
válido persuasivo (persuasivo, do ponto de vista racional).
Fica
agora claro por que é que o argumento "Sócrates era grego; logo, Sócrates
era grego", apesar de sólido, não é um bom argumento: a razão que
apresentamos a favor da conclusão não é mais plausível do que a conclusão e,
por isso, o argumento não é persuasivo.
Talvez
recorras a argumentos deste tipo, isto é, argumentos que não são bons (apesar
de sólidos), mais vezes do que imaginas. Com certeza, já viveste situações
semelhantes a esta:
— Pai, preciso de um aumento da "mesada".
— Porquê?
— Porque sim.
O que temos aqui? O seguinte argumento:— Porquê?
— Porque sim.
Preciso de um aumento da "mesada".
Logo, preciso de um aumento da "mesada".
Logo, preciso de um aumento da "mesada".
Afinal,
querias justificar o aumento da "mesada" (conclusão) e não
conseguiste dar nenhuma razão plausível para esse aumento. Limitaste-te a dizer
"Porque sim", ou seja, "Preciso de um aumento da 'mesada',
porque preciso de um aumento da 'mesada'". Como vês, trata-se de um
argumento muito mau, pois com um argumento deste tipo não consegues persuadir
ninguém.
Mas
não penses que só os argumentos em que a conclusão repete a premissa é que são
maus. Um argumento é mau (ou fraco) se as premissas não forem mais plausíveis
do que a conclusão. É o que acontece com o seguinte argumento:
Se a vida não faz sentido, então Deus não existe.
Mas Deus existe.
Logo, a vida faz sentido.
Mas Deus existe.
Logo, a vida faz sentido.
Este
argumento é válido, mas não é um bom argumento, porque as premissas não são
menos discutíveis do que a conclusão.
Para
que um argumento seja bom (ou forte), as premissas têm de ser mais plausíveis
do que a conclusão, como acontece no seguinte exemplo:
Se não se aumentarem os níveis de
exigência de estudo e de trabalho dos alunos no ensino básico, então os alunos
continuarão a enfrentar dificuldades quando chegarem ao ensino secundário.
Ora, não se aumentaram os níveis
de exigência de estudo e de trabalho dos alunos no ensino básico.
Logo, os alunos continuarão a
enfrentar dificuldades quando chegarem ao ensino secundário.
Este
argumento pode ser considerado bom (ou forte), porque, além de ser válido, tem
premissas menos discutíveis do que a conclusão.
As
noções de lógica que acabei de apresentar são elementares, é certo, mas, se as
dominares, ajudar-te-ão a fazer um melhor trabalho na disciplina de Filosofia
e, porventura, noutras.
Nota
Agradeço a Desidério Murcho as sugestões e correcções feitas
à 1.ª versão deste trabalho.
Bibliografia
- Aires Almeida et al.
(2003a). A Arte de Pensar — 10.º ano. Lisboa: Didáctica Editora.
- Aires Almeida et al.
(2003b). A
Arte de Pensar: Capítulo 15 — acetato 2. In A arte de pensar —
Filosofia 10.º — 11.º ano. (24.07.2004)
- Aires Almeida et al.
(2004). A Arte de Pensar — 11.º ano. Lisboa: Didáctica Editora.
- Murcho, D. (2003). O
Lugar da Lógica na Filosofia. Lisboa: Plátano Edições Técnicas.
- Murcho, D. (2004).
Epistemologia da Argumentação. In Crítica: Revista de filosofia e
ensino. (24.07.2004)
- Newton-Smith, W. (1998). Lógica:
um curso introdutório. Lisboa: Gradiva.
- Rodrigues, L. et al.
(2004). Filosofia — 11.º ano. Lisboa: Plátano Editora.
Trabalho realizado no âmbito da Acção de Formação "Lógica e
Filosofia nos Programas de 10.º e 11.º Anos", leccionado por Desidério
Murcho (CEF-SPF) e organizado pelo Centro de
Formação da Associação de Escolas Braga/Sul.
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1749-8457
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