Um argumento válido pode ter
uma conclusão falsa desde que pelo menos uma das suas premissas seja falsa.
Dado que o que interessa na argumentação é chegar a conclusões verdadeiras, os
argumentos meramente válidos não têm interesse. É por isso importante compreender
a noção de argumento sólido.
Um argumento sólido obedece
a duas condições: é válido e as suas premissas são verdadeiras. É impossível
que um argumento dedutivo sólido tenha uma conclusão falsa. Vejamos o seguinte
exemplo:
Todos os animais ladram.
Os pardais são animais.
Logo, os pardais ladram.
Este argumento é válido, mas
não é sólido – a primeira premissa é falsa porque nem todos os animais ladram.
Na argumentação é muito importante usar premissas verdadeiras e argumentos
válidos, pois só estas duas condições garantem conclusões verdadeiras. E se um
dado argumento for válido mas a sua conclusão é falsa, pelo menos uma das suas
premissas é falsa.
Os argumentos sólidos estão
mais próximos do que interessa na argumentação. Mas ainda não chega, pois há
argumentos sólidos sem qualquer interesse para a argumentação. Vejamos o
seguinte exemplo:
A neve é branca.
Logo, a neve é branca.
Este argumento é válido: é
impossível a premissa ser verdadeira e a conclusão falsa. E é sólido: a
premissa é verdadeira. Mas é óbvio que o argumento não é bom. Isto acontece
porque num argumento bom as premissas têm de ser menos discutíveis do que a
conclusão.[1]
Muitos argumentos não são bons porque partem de premissas que não são menos
discutíveis do que a conclusão; por exemplo:
Se Deus existe, a vida faz sentido.
Deus existe.
Logo, a vida faz sentido.
Este argumento é mau porque
as suas premissas não são menos discutíveis do que a sua conclusão. Este
argumento pode ser o resumo de uma argumentação mais vasta em que se defenda
cuidadosamente cada uma das premissas. Mas, nesse caso, mais uma vez, esses argumentos
terão de partir de premissas menos discutíveis do que as conclusões.
A noção do que é mais ou
menos discutível é sem dúvida relativamente vaga e contextual; mas exibe uma
condição necessária para que um argumento seja bom. E é importante ter
consciência dela para que não se crie a crença falsa de que a validade é inútil
para a argumentação e para a filosofia.
Exercícios
1.
Poderá um argumento sólido ter uma conclusão
falsa? Porquê?
2.
Poderá um argumento sólido não ser válido?
Porquê?
3.
Considere os seguintes argumentos:
a) “O
aborto não é permissível porque a vida é sagrada.”
b) “As
touradas são permissíveis porque os animais não têm qualquer relevância moral.”
Serão
estes argumentos bons? Porquê?
4.
Poderá um argumento bom não ser sólido?
Porquê?
5.
Poderá um argumento bom não ser válido? Porquê?
MURCHO,
Desidério, O Lugar da Lógica na Filosofia,
2003. Lisboa: Plátano Editora, pp. 18-20
[1] Esta regra é muitas vezes
violada no curso normal da argumentação; é comum ouvir argumentos contra o
aborto, por exemplo, com base em premissas religiosas que estão longe de ser
menos discutíveis do que a conclusão desejada. É necessário ter em mente que a força de um argumento válido é
precisamente igual à plausibilidade da sua premissa menos plausível.
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