Será que o libertismo é coerente? Por fim podemos examinar o problema de saber se o Libertismo faz algum sentido enquanto perspectiva positiva sobre o comportamento humano. Para compreender o nosso comportamento, não basta negar que as nossas acções estão determinadas. Precisamos também de uma perspectiva positiva acerca da forma como tomamos decisões.
Se as nossas acções não estão determinadas causalmente, como surgirão supostamente? O que produzirá ao certo as nossas decisões? Podemos imaginar que há, dentro de cada um de nós, uma espécie de «ser mental» cujas decisões não estão constrangidas pelas leis causais - um controlador fantasmagórico que faz escolhas independentemente daquilo que ocorre no cérebro. Mas isto não é credível. Vai contra o que a ciência nos diz sobre o funcionamento das coisas. Não há provas de qualquer tipo da existência de uma «energia mental» que actue dentro de nós, desligada da operação do nosso sistema neurológico. E, mesmo pondo de parte a ciência, esta especulação parece não passar de um conto de fadas.
No entanto, se não devemos supor que há dentro de nós uma entidade mental desconectada a controlar as coisas, o que haveremos de pensar? Que uma parte do cérebro opera à margem da rede causal do mundo? isto parece uma tolice, mas é difícil pensar em algo melhor. Parece que não dispomos de uma perspectiva plausível que dê sentido à «liberdade» dos libertistas. Na ausência de tal perspectiva, temos de procurar noutro lugar uma solução para o problema do livre-arbítrio.
Problemas da Filosofia, James Rachels, Gradiva (Colecção - Filosofia Aberta, pp. 191-2)
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