quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A RESPOSTA COMPATIBILISTA ii



O Livre-arbítrio implica o Determinismo. Será que o Compatibilismo é uma teoria viável? O argumento básico a seu favor é o que se segue.
Toda a preocupação com o livre-arbítrio começa com a ideia de que se uma acção é causada, então não pode ser livre. Sem este pressuposto, o problema do livre-arbítrio não se coloca. A questão, então, é a de saber se este pressuposto é verdadeiro.
Se o pressuposto fosse verdadeiro, então, para que fosse livre, um acto teria de ser não causado. Mas pensemos no que isso significaria. Como seria um qualquer acontecimento ser não causado? Imagine-se que as bolas de bilhar deixavam de obedecer às leis causais. O movimento tornar-se-ia imprevisível, mas apenas porque elas seriam aleatórias e caóticas. Poderiam fazer ângulos estranhos, saltar ou parar subitamente. Quando fossem atingidas pela bola branca, poderiam ficar paradas, explodir ou transformar-se em gelo. Tudo poderia acontecer.
Do mesmo modo, se as acções de uma pessoa se desligassem subitamente da rede de causas e efeitos, tornar-se-iam aleatórias, caóticas e imprevisíveis. Um homem que estivesse num passeio poderia saltar para a estrada em vez de esperar pela luz verde. Ou poderia tirar a roupa, atacar a pessoa mais próxima, saltar repetidamente ou recitar a Magna Carta. As coisas seriam assim se o comportamento fosse não causado, mas não é isto que entendemos por «livre». Não pensamos que quem começasse a comportar-se dessa forma teria adquirido subitamente livre-arbítrio – pensamos que teria enlouquecido. As acções livres não são aleatórias e caóticas; são ordenadas e ponderadas.
Podemos dar mais um passo nesta linha de pensamento. O livre-arbítrio não é meramente compatível com o Determinismo: O livre-arbítrio exige o Determinismo. Num mundo aleatório e caótico, ninguém seria livre; mas num mundo que opera de forma ordenada, segundo leis causais, as acções livres e racionais são possíveis, pois nesse mundo aquilo que a pessoa fizer será controlado pelo seu carácter e pelos seus desejos.
No entanto, as acções das pessoas seriam previsíveis no mundo causalmente determinado. Isto não derruba a noção de que seriam livres?
Como é óbvio, as acções das pessoas são frequentemente previsíveis, apesar do que dissemos sobre as recusas maliciosas de agir em conformidade com as expectativas. Se conhecemos uma pessoa suficientemente bem, muitas vezes conseguimos dizer de antemão que tipo de escolhas irá ela fazer. Tenho uma amiga que vê muitos filmes e sei exactamente de que tipo de filmes ela gosta. Há anos que observo o seu hábito de ir ao cinema. Se a minha amiga está a escolher um filme para ver esta noite e eu sei que filmes estão em exibição, posso prever razoavelmente bem qual deles irá ela escolher.
Mas será que o facto de eu conseguir prever a sua escolha significa que ela não é livre? de forma alguma – ela consulta a lista de filmes n jornal, pensa sobre o que quer ver e decide em função disso. Ninguém lhe está a apontar uma arma à cabeça. Ninguém implantou um dispositivo de controlo remoto no seu cérebro. Assim, ela escolhe «de livre vontade». O facto de eu, conhecendo-a como conheço, conseguir prever as suas escolhas nada altera. Na verdade, algo estaria errado se eu não conseguisse prever que ela vai preferir Os Despojos do Dia a Mcquade, o Lobo Solitário.

Problemas da Filosofia, James Rachels, Gradiva - (Colecção Filosofia Aberta, pp 194-5)

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