quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A RESPOSTA LIBERTISTA ii


O argumento de que o universo não é um sistema determinista. O Determinismo, poder-se-á dizer, não está de acordo com a ciência actual. No apogeu da física newtoniana, pensava-se que o universo operava estritamente segundo leis causais. Acreditava-se que as leis da Natureza eram leis causais. Acreditava-se que as Leis da Natureza eram leis causais que especificavam as condições em que um estado de coisas tinha de esse seguir a outro – o movimento das bolas numa mesa de bilhar era um modelo para o universo inteiro. Porém, a física newtoniana foi substituída por uma imagem diferente do funcionamento do universo.
Segundo a mecânica quântica, uma pedra angular da física actual, as regras que governam o comportamento das partículas sub-atómicas são irredutivelmente probabilísticas. As leis da teoria quântica não nos dizem «Dado X, Y tem de se seguir»; dizem-nos antes. «Dado X, há uma certa probabilidade de Y se seguir» Assim, as Leis da Natureza podem dizer-nos que, em certas condições, uma certa percentagem de átomos radioactivos irá decair, mas não nos dizem que átomos irão decair. O facto de que uma certa percentagem vai decair pode estar determinado, mas o facto de que um acto particular via decair não está determinado.
Alguns cientistas acreditam, por razões filosóficas, que a teoria quântica tem de acabar por ser suplantada por uma teoria diferente, ainda desconhecida, que seja determinista. Consideram repugnante a ideia de que o universo opera segundo princípios de acaso. Einstein, que fez a célebre afirmação «Deus não joga aos dados com o universo», foi um desses cientistas. No entanto não se entrevê nenhuma nova teoria e, tanto quanto sabemos, a teoria quântica está aí para ficar.
Significará isto que não precisamos de nos preocupar com o Determinismo? Por vezes saúda-se a teoria quântica como uma boa notícia para o livre – arbítrio. Se nem tudo está causalmente determinado, diz-se, então afinal podemos ser livres, já que as nossas acções podem contar-se entre aquilo que não está determinado.
No entanto, a física quântica na verdade não ajuda muito a defender o livre-arbítrio. Afinal as implicações da indeterminação quântica para o comportamento humano são tão reduzidas que, na prática, não fazem a menor diferença. Comparemo-las com as implicações da teoria quântica para os computadores. Os outputs de um computador são determinados pelos seus inputs e pelo seu programa. A mecânica quântica não implica que devemos deixar de confiar nos computadores – as operações de um computador, mesmo que não estejam completamente determinadas, estão suficientemente perto disso para que não haja diferença. Continuamos a obter os outputs esperados, dados os inputs correctos e o programa correcto. Poder-se-á dizer algo semelhante dos seres humanos, o que será suficiente para o Argumento Determinista.

Problemas da Filosofia, James Rachels, Gradiva - (Colecção Filosofia Aberta, pp 185 - 6)

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