A Arte não é expressão de nada, a não ser de si mesma. Tem uma vida independente, tal como o Pensamento a tem, e desenvolve-se estritamente por caminhos próprios. Não é necessariamente realista numa época de realismo, nem espiritual numa época de fé. Longe de ser uma criação do seu tempo, está normalmente em oposição frontal a ele, e a única história que preserva para nós é a história da sua própria evolução. Por vezes, retrocede sobre si mesma, e faz reviver alguma forma antiga, como aconteceu no movimento arcaizante da arte grega tardia, ou no movimento pré-rafaelita dos nosso dias. Noutras palavras, antecipa por completo a sua época, e produz num dado século obras que exigirão um outro século para serem percebidas, apreciadas e fruídas. Em circunstância alguma reproduz a sua época. Passar da arte de uma época à época em si é o grande erro que todos os historiadores cometem.
A segunda doutrina é esta. Toda a má arte nasce de um retorno à Vida e à Natureza, e da elevação destas a ideais. A Vida e a Natureza podem por vezes ser usadas como parte da matéria-prima da Arte, mas, antes de constituírem um benefício real para ela, têm de ser traduzidas em convenções artísticas. No momento em que a Arte abandona o seu meio imaginativo, abandona tudo. Como método o Realismo é um fracasso completo, e as duas coisas que todo o artista deverá evitar são a modernidade da forma e a modernidade do assunto.
A terceira doutrina é que a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida. Isto resulta não apenas do instinto imitativo da Vida, mas do facto de o fim confesso da Vida ser o de encontrar expressões, e de a Arte lhe oferecer algumas formas belas através das quais poderá realizar a sua energia. Esta é uma teoria nunca antes exposta, mas que é extremamente fértil, e lança uma luz inteiramente nova sobre a História da Arte.
Segue-se, como corolário disto, que também a Natureza exterior imita a Arte. Os únicos feitos que é capaz de mostrar-nos são efeitos que veríamos antes na poesia, ou em pinturas. É este o segredo do encanto da Natureza, assim como a explicação da sua debilidade.
WILDE, Oscar, Intenções, 3ª edição, 2006. Lisboa: Livros Cotovia, pp. 50-51
A segunda doutrina é esta. Toda a má arte nasce de um retorno à Vida e à Natureza, e da elevação destas a ideais. A Vida e a Natureza podem por vezes ser usadas como parte da matéria-prima da Arte, mas, antes de constituírem um benefício real para ela, têm de ser traduzidas em convenções artísticas. No momento em que a Arte abandona o seu meio imaginativo, abandona tudo. Como método o Realismo é um fracasso completo, e as duas coisas que todo o artista deverá evitar são a modernidade da forma e a modernidade do assunto.
A terceira doutrina é que a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida. Isto resulta não apenas do instinto imitativo da Vida, mas do facto de o fim confesso da Vida ser o de encontrar expressões, e de a Arte lhe oferecer algumas formas belas através das quais poderá realizar a sua energia. Esta é uma teoria nunca antes exposta, mas que é extremamente fértil, e lança uma luz inteiramente nova sobre a História da Arte.
Segue-se, como corolário disto, que também a Natureza exterior imita a Arte. Os únicos feitos que é capaz de mostrar-nos são efeitos que veríamos antes na poesia, ou em pinturas. É este o segredo do encanto da Natureza, assim como a explicação da sua debilidade.
WILDE, Oscar, Intenções, 3ª edição, 2006. Lisboa: Livros Cotovia, pp. 50-51
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