quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

“ANTEVISÕES?”


A meio século de distância da publicação destes livros [1984, de George Orwell e O Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley], podemos constatar que, enquanto as antevisões tecnológicas se mostraram surpreendentemente exactas, as previsões políticas do primeiro livro, 1984, estavam rotundamente erradas. O ano de 1984 começou e acabou com os Estados Unidos e a União Soviética envolvidos na Guerra Fria. Neste ano, a IBM introduziu no mercado um novo modelo de computador pessoal, o começo do que viria a ser a revolução dos computadores pessoais. Como afirmou Peter Huber, o computador pessoal ligado à Internet foi a concretização do painel de visualização de Orwell. Só que, em vez de se tornar num instrumento de centralização e tirania, teve precisamente o efeito contrário: a democratização do acesso à informação e a descentralização da política.
Apenas cinco anos depois de 1984, e após uma série de acontecimentos dramáticos que algum tempo antes não pareciam mais do que ficção política, assistiu-se ao colapso da União Soviética e do seu império, desaparecendo assim a ameaça totalitária tão vivamente evocada por Orwell. Uma vez mais se afirmou que as duas ocorrências, o desmantelamento dos impérios totalitários e a emergência do computador pessoal, assim como dos outros meios tecnológicos pouco dispendiosos, desde as televisões aos rádios, aos aparelhos de telecópia e ao correio electrónico, não podiam deixar de ter ligação entre si. E isto porque qualquer governo totalitário depende da capacidade do regime para manter o monopólio sobre a informação e, uma vez que as novas tecnologias da informação tornam impossível tal desiderato, o poder do regime é substancialmente enfraquecido.
FUKUYAMA, Francis, O Nosso Futuro Pós-Humano, 2ª edição, 2002. Lisboa: Quetzal Editores, pp. 20-21

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