sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Dois egoísmos



De acordo com a teoria do egoísmo psicológico, as pessoas agem sempre apenas em função do seu interesse pessoal. Segundo a teoria do egoísmo ético, as pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse pessoal. Enquanto que o egoísmo psicológico é uma teoria puramente descritiva sobre o comportamento humano, o egoísmo ético é uma teoria normativa.

Nenhuma das perspetivas egoístas implica a outra. Por isso, não seremos inconsistentes se aceitarmos uma delas ao mesmo tempo que rejeitamos a outra. Também não há qualquer inconsistência na aceitação de ambas as perspetivas. Isto, aliás, é algo que ocorre com mais frequência que a aceitação de só uma delas. No entanto, parece que se aceitamos as duas formas de egoísmo chegamos a uma conclusão bastante estranha: todos fazem precisamente aquilo que devem fazer. Sendo assim, que função prática terá o egoísmo ético? Dada esta conclusão, este certamente não se destina a regular de algum modo o nosso comportamento, e assim não faz aquilo que geralmente se espera de uma teoria moral. Quando muito, o egoísmo ético pode servir para aliviar certos sentimentos de culpa. Como pergunta um autor que aceita ambas as perspetivas egoístas: «Por que te hás-de sentir culpado por procurar a tua própria felicidade quando é isso que todos os outros também fazem?»
Mas não nos precipitemos a concluir que a conjunção das duas perspetivas egoístas implica que todos fazem precisamente aquilo que devem fazer. Afinal, tal como as formulámos elas permanecem ambíguas, pois cada uma delas pode querer dizer duas coisas muito diferentes. Supõe que, para dissolveres a ambiguidade, perguntas ao egoísta psicológico: estás a dizer que as pessoas agem em função daquilo que elas pensam ser o seu interesse pessoal ou que agem em função daquilo que é realmente o seu interesse pessoal? Aqui o egoísta terá que optar pela primeira hipótese, pois a segunda é trivialmente falsa. É muito fácil apontar exemplos de pessoas que, embora ajam de certo modo por pensarem que assim estão a servir os seus interesses da melhor maneira, na verdade estão profundamente enganadas a esse respeito. Um alcoólico pode pensar que beber uma garrafa de whisky por dia é a melhor coisa que pode fazer para promover o seu bem-estar, mas está enganado. Um criminoso que assalta uma ourivesaria pode pensar que isso lhe vai permitir ter uma vida confortável, mas se acabar por ser preso verificará que estava enganado. Deste modo, o egoísmo psicológico só pode ter alguma plausibilidade na sua versão subjetiva, ou seja, entendido como a tese de que as pessoas agem em função daquilo que julgam, correta ou incorretamente, ser o seu interesse pessoal.
E o que quer dizer o egoísta ético? Que as pessoas devem agir em função daquilo que elas pensam ser o seu interesse pessoal ou que devem agir em função daquilo que é realmente o seu interesse pessoal? Aqui o egoísta tem de optar pela segunda hipótese, pois a primeira não é minimamente plausível: ela implica que, se o alcoólico e o assaltante forem egoístas, devem, respetivamente, beber o whisky e assaltar a ourivesaria, o que é absurdo. Afinal, o que deve fazer um egoísta? Como a ele só lhe interessa promover o seu bem-estar, deve proceder de modo a ser bem sucedido nesse propósito: deve tentar fazer o que realmente promove o seu bem-estar. Por isso, não se pode limitar a obedecer aos seus impulsos, fazendo aquilo que, irrefletidamente, lhe parece ser melhor para si, e procurando apenas satisfazer os seus desejos imediatos. Ele tem de avaliar racionalmente as situações para descobrir qual é de facto a maneira de agir que melhor serve os seus interesses.
Assim, enquanto que o egoísmo psicológico só pode ser plausível na sua versão subjetiva, o egoísmo ético deve ser entendido na sua versão objetiva. E, portanto, aceitar as duas perspetivas não nos compromete com a ideia de que todos fazem aquilo que devem fazer. Quem aceita os dois tipos de egoísmo tende antes pensar o seguinte: é verdade que só o amor próprio nos move, que no fundo só estamos interessados no nosso próprio bem-estar, e não há nada de errado nisso, só que muitas vezes estamos enganados quanto àquilo que é melhor para nós; por isso, devemos modificar o nosso comportamento, procedendo de uma maneira racional, de modo a fazermos aquilo que é mesmo melhor para nós. O egoísta ético insistirá, por exemplo, na ideia de que em muitas ocasiões devemos ajudar os outros. Mesmo que isso nos traga alguns custos, a longo prazo esses custos poderão ser amplamente compensados quando precisarmos de ajuda e os outros nos ajudarem, coisa que não fariam se antes nos tivéssemos recusado a ajudar. Deste modo, por vezes o egoísta pode e deve cooperar com os outros. É claro que, melhor do que ser cooperativo, é conseguir parecê-lo sem o ser. Vale a pena concluir com a descrição que Platão apresenta do «homem injusto», pois esta dá-nos uma excelente imagem do egoísta bem sucedido:
Em primeiro lugar, que o injusto faça como os artistas qualificados — como um piloto de primeira ordem, ou um médico, repara no que é impossível e no que é possível fazer com a sua arte, e mete ombros a esta tarefa, mas abandona aquela. E ainda, se vacilar nalgum ponto, é capaz de o corrigir. Assim também o homem injusto deve meter ombros aos seus injustos empreendimentos, com correção, passando despercebido, se quer ser perfeitamente injusto. Em pouca conta deverá ter-se quem for apanhado. Pois o supra-sumo da injustiça é parecer justo sem o ser. Dêmos, portanto, ao homem perfeitamente injusto a mais completa injustiça; não lhe tiremos nada, mas deixemos que, ao cometer as maiores injustiças, granjeie para si mesmo a mais excelsa fama de justo, e, se acaso vacilar nalguma coisa, seja capaz de a reparar, por ser suficientemente hábil a falar, para persuadir; e, se for denunciado algum dos seus crimes, que exerça a violência, nos casos em que ela for precisa, por meio da sua coragem e força, ou pelos amigos e riquezas que tenha granjeado.
Platão, A República, Livro II, 360e-361b
Pedro Galvão

TAREFA: Como se distingue o egoísmo psicológico do egoísmo ético? (Deixa a tua resposta na caixa dos comentários.)

14 comentários:

Anónimo disse...

O egoísmo psicológico é uma teoria em que o egoísta acredita que fazer uma certa ação (apesar de ser certa ou errada) é bom para ele. É algo que contribuí para o seu interesse pessoal mesmo que isso prejudique outras pessoas. Nesta teoria, o egoísta não obedece a qualquer padrão moral, apenas age conforme os seus desejos e é completamente subjetivista.
Já o egoísmo ético é uma teoria em que o egoísta também age consoante os seus interesses pessoais, mas este acredita que pode prejudicar os outros (se isso for preciso) para alcançar os seus objetivos, mas também aceita que o prejudiquem a ele se for também esse o caso para outras pessoas. Este egoísta tem uma visão objetiva, e não é amoral. Pode não agir moralmente, mas tem noção desses valores. Por isso é que pensa que tanto pode fazer aos outros como os outros a ele.
Mas infelizmente esta crença só funcionaria bem se as pessoas tivessem desejos muito bizarros para se deixarem constantemente serem prejudicados por outros apenas por acreditarem nesta teoria.

Iliane Soares nº12 10ºD


Anónimo disse...

O que distingue o egoísmo psicológico do egoísmo ético é que de acordo com a teoria do egoísmo psicológico, as pessoas agem sempre apenas em função do seu interesse pessoal. Segundo a teoria do egoísmo ético, as pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse pessoal. o egoísmo psicológico é uma teoria puramente descritiva sobre o comportamento humano, o egoísmo ético é uma teoria normativa mas nenhuma das perspectivas egoístas implica a outra. Por isso, não seremos inconsistentes se aceitarmos uma delas ao mesmo tempo que rejeitamos a outra.

Márcia Teixeira,nº19, 10ºD

Anónimo disse...

O egoísmo psicológico é uma teoria da motivação que afirma que todos os nossos desejos últimos se referem a nós mesmos. Sempre que queremos bem aos outros (ou mal), temos esses desejos que se referem aos outros apenas instrumentalmente; preocupamo-nos com os outros apenas porque pensamos que o seu bem-estar influenciará o nosso próprio bem-estar.
Como afirmei, o egoísmo é uma teoria descritiva, não é normativa. Procura caracterizar o que de facto motiva os seres humanos, mas nada diz sobre se essa motivação é certa ou errada. O egoísmo ético diz como devemos comportar-nos; nesse sentido, é uma teoria normativa. Para o egoísmo ético, o nosso único dever primitivo é fazer o melhor para nós mesmos. O interesse próprio é o princípio moral fundamental. Não é que o egoísta não tenha outros deveres; o que se passa é que todos os outros deveres do egoísta derivam do interesse próprio. Nada mais. Por isso, mesmo quando um defensor do egoísmo ético ajuda os outros ou renuncia a fazer o que realmente quer, é no fundo a promoção do seu interesse próprio a longo prazo que o move.
Daniela Lima nº8 10ºD

Anónimo disse...

O egoísmo psicológico defende que as pessoas fazem apenas aquilo que julgam ser mais vantajoso para elas. E os outros fazem apenas aquilo que julgam ser mais vantajoso para eles. Enquanto que, o egoísmo ético defende que as pessoas devem fazer apenas o que for mais vantajoso para elas, e os outros devem fazer apenas o que for mais vantajoso para eles.
Daniela Santos nº9 10ºD

Anónimo disse...

O egoísmo psicológico é quando fazemos apenas aquilo que nós julgamos mais vantajoso para nós. E os outros fazem apenas aquilo que julgam mais vantajoso para eles.
E o egoísmo ético é o que os outros devem fazer apenas o que for mais vantajoso para eles.

Inês Santos nº14 10ºD

Armando' disse...

O que distingue o egoísmo psicológico do egoísmo ético é que de acordo com a teoria do egoísmo psicológico, as pessoas agem sempre apenas em função do seu interesse pessoal. Segundo a teoria do egoísmo ético, as pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse pessoal.

Cristiana Lopes disse...

O egoísmo psicológico é uma teoria em que o egoísta faz aquilo que JULGA ser o mais vantajoso para ele.E os outros fazem apenas aquilo que JULGAM ser o mais vantajoso para eles. Enquanto que no Egoísmo ético o egoísta DEVE fazer apenas o que é mais vantajoso para ele. E os outros DEVEM fazer o que é mais vantajoso para eles. Nesta teoria é permissivel que o egoísta prejudique os outros quando isso for vantajoso para ele, mas também é permissivel que os outros o prejudiquem quando mais vantajoso para eles. O egoísmo ético é um perspectiva moral.

Anónimo disse...

O egoísta psicológico faz sempre aquilo que julga ser mais vantajoso para si próprio.
O egoísta ético faz sempre o que deve ser mais vantajoso para ele próprio e faz os possíveis para alcançar o que mais deseja ainda que para isso os outros sejam prejudicados pelas suas ações.

Carolina Ferreira, nº1 10ºD

Anónimo disse...

O que diferencia o egoísmo psicológico do egoísmo ético é que o egoísmo psicológico é a teoria em que as pessoas agem sempre em função do seu interesse pessoal, e o egoísmo ético é a teoria em que as pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse pessoal.
Ana Basilio nº2 10ºD

Anónimo disse...

Em relação ao egoísmo psicológico, por exemplo, eu faço apenas aquilo que julgo ser mais vantajoso para mim, e os outros fazem apenas aquilo que julgam ser mais vantajoso para eles.
Em relação ao egoísmo ético, devo fazer apenas o que for mais vantajoso para mim e os outros devem fazer apenas o que for mais vantajoso para eles. Este acredita que pode prejudicar os outros para isso, mas também aceita que os outros o prejudiquem, caso seja preciso.

Mariana Moitoso nº21 10ºD

Anónimo disse...

O egoísmo psicológico é a teoria segundo a qual o egoísta acredita que fazer uma certa acção, esta tem que ser vantajosa para si, não obedecendo a qualquer padrão moral. O egoísta ético também acredita que as acções tem que ser vantajosas para si mas acha também que se for necessário pode prejudicar os outros. Andreia Santos 10ºD Nº3

Anónimo disse...

O que distingue o egoísmo psicológico do egoísmo ético é que enquanto o egoísmo psicológico defende que as pessoas agem sempre de acordo com o seu interesse pessoal, e os outros fazem aquilo o que julgam ser mais vantajoso para eles.
O egoísmo ético defende que as pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse pessoal, e os outros devem fazer o que for mais vantajoso para eles.

Daniel Lopes nº 7 10 D

Anónimo disse...

O que distingue o egoismo psicológico do egoismo ético é que o egismo psicologico é uma teoria que o egoista defende que as pessoas fazem apenas o que for mais vantajoso para eles proprios de acordo com o seu interesse pessoal. O egoismo ético é a teoria segundo defende que faz o mais vantajosa para si e os outros devem fazer o mais vantajoso para elas.
Dayana Gândara 10 D nº20

Anónimo disse...

O que distingue o egoísmo psicológico do egoísmo ético é que enquanto o egoísmo psicológico defende que as pessoas agem sempre de acordo com o seu interesse pessoal, o egoísmo ético defende que as pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse pessoal.

Bruno Henriques Nº5 10ºD